Por Charles Nisz.
Documentos vazados pelo Exército Eletrônico da Síria mostram cumplicidade entre a Microsoft e o FBI na obtenção dos dados de usuários pela agência de investigação do governo dos EUA. Em junho de 2013, o analista de sistemas Edward Snowden vazou documentos mostrando como a NSA (agência de segurança nacional dos EUA) obrigava empresas de tecnologia a entregar as informações de usuários, usando legislação instituída no segundo mandato de George W. Bush.
Flickr/kalavinka/CC
Montante gasto pelo FBI para pagar requisições de dados a usuários da Microsoft chegou a US$ 3,3 mi em 2013
Também era sabido que as empresas cobravam por isso na forma de isenções fiscais ou perdão de multas antitruste, conforme os documentos vazados pelo analista da consultoria Booz Allen Hamilton. Agora, com as informações dos hackers do Exército Eletrônico da Síria, sabemos quanto essas empresas cobram para revelar informações dos usuários dos seus programas e aplicativos, segundo o site Daily Dot.
Os hackers sírios alegam ter vazado ordens de pagamento legítimas da Microsoft obtidas da Unidade de Tecnologia para Interceptação Digital, uma divisão do FBI. Os pagamentos mensais começaram com modestos US$ 10 mil ainda em abril de 2012 e saltaram para consideráveis US$ 280 mil em novembro de 2013. Multiplicado por 12, esse montante atinge a soma de US$ 3,3 milhões por ano em cobranças da gigante de tecnologia baseada em Seattle para o FBI. O preço cobrado em cada requisição dobrou: de US$ 100,00 para US$ 200,00 em agosto de 2013.
Basicamente, as empresas da web fazem dinheiro comercializando os dados de seus usuários. Especialistas ouvidos por sites de tecnologia dizem que a cobrança feita pela Microsoft é algo positivo. Com os pagamentos, as transações ficam registradas de modo oficial e podemos saber com qual frequência o FBI pede esses dados e quais dados dos usuários são requisitados pelo governo norte-americano.
Reprodução
Reprodução da ordem de pagamento expedida pela Microsoft em troca dos dados concedidos ao FBI
Dentre os dados pedidos estão informações sobre login, nome e sobrenome, código postal, estado, cidade, país, fuso horário, endreço IP e data de registro. Um dos emails trocados entre o FBI e a Microsoft mostra o agradecimento de um dos agentes e problemas para acessar os dados de um usuário específico:
“Antes de tudo, obrigado por essa rápida resposta a esse mandato de busca. Tentei acessar os registros durante todo o dia de hoje. As instruções de acesso são excelentes. Entretanto, depois de digitar o código de acesso, aparece a seguinte mensagem: Desculpe, o serviço está indisponível agora. Alguma sugestão para resolver o problema? Obrigado.”
O email tem o domínio fbi.gov e a mensagem é assinada pelo FBI. Até o momento, a Microsoft não se pronunciou sobre o assunto. A companhia sempre afirmou só entregar dados de usuários caso houvesse uma requisição da Justiça Federal norte-americana, garantindo a segurança dos dados. O Exército Eletrônico da Síria já hackeou a Microsoft antes, aumentando as chances dos documentos serem verídicos. Além disso, a Microsoft acusou o roubo de documentos em seu blog no início de 2014.
