Devido à série de recursos apresentada pelo Arena, autoridades eleitorais ainda não puderam oficializar o nome do ganhador.
Por Giorgio Trucchi.*
Depois de dias de expectativa, o TSE (Tribunal Supremo Eleitoral) de El Salvador informou nas primeiras horas desta quinta-feira (13/03) o escrutínio definitivo do segundo turno da eleição presidencial, realizado domingo (09/03). O vencedor e novo presidente do país é Salvador Sánchez Cerén, da FMLN (Frente Farabundo Martí para a Liberação Nacional), com 50.11% (1,495,815 votos). Norman Quijano, do partido Arena (Aliança Republicana Nacionalista), de direita, teve 49.89% (1,489,451).
Apesar da diferença de 6,364 votos, com esse resultado a FMLN e seu líder histórico, Sánchez Cerén, alcançam quase 1,5 milhão de votos, aumentando o caudal em 200 mil votos em comparação com o primeiro turno — um recorde eleitoral em El Salvador. Devido a uma série de recursos apresentada pelo Arena, dentre eles, a anulação do processo eleitoral completo, as autoridades eleitorais ainda não puderam oficializar o nome do ganhador. No entanto, os resultados apresentados pelo presidente do TSE, Eugenio Chicas, podem ser considerados definitivos.
Chicas sublinhou o “uso político” desses recursos para criar “tensão e angústia”, provocando impasses no escrutínio, o que retardou a publicação em linha dos resultados finais. Ao mesmo tempo, se disse satisfeito com o trabalho realizado “pela coincidência entre os resultados preliminares e os definitivos”, encontrando diferenças somente em 49 das mais de 10 mil aas. “Esse resultado demonstra a rapidez, transparência, segurança e certeza do processo que desenvolvemos”, afirmou.
Apesar do anúncio oficial, Jorge Velado, presidente do Arena, insistiu na necessidade de que se realize uma contagem “voto por voto”, como única forma para “aproximar as forças econômicas e políticas do país”. Além disso, disse que existem pelo menos 23 mil votos em disputa e uma grande quantidade de irregularidades. “Caso seja oficializado como ganhador pelo TSE, iremos considerar Salvador Sánchez um presidente ilegítimo”, falou.
Contrário à demanda do Arena, o Procurador de Direitos Humanos, David Morales, considerou que o processo de escrutínio havia sido realizado de forma “limpa e transparente” e que seu trabalho de observação e verificação não havia detectado “nenhuma evidência de fraude”, nem irregularidades “que afetem o resultado final”. O parecer de Morales coincidiu com os emitidos pelas missões de observação eleitoral das Nações Unidas, OEA (Organização de Estados Americanos) e do CEELA (Conselho de Especialistas Eleitorais da América Latina), que consideraram o processo transparente, eficiente e legítimo.
Por sua vez, as forças armadas emitiram um comunicado onde rechaçaram o chamado do partido Arena a “intervir no processo eleitoral”, ratificaram seu compromisso de respeitar “irrestritamente a decisão do povo salvadorenho expressada nas urnas”, e se comprometerem a aceitar os resultados emitidos pelo TSE.
Governo de unidade
Antes das reclamações do Arena e do chamado de Quijano para desconhecer a autoridade do TSE e do presidente eleito, a deputada da FMLN, Lorena Peña, afirmou a Opera Mundi que a vitória não só permitira a continuidade das mudanças, mas abre o caminho em direção a um “governo que una a nação” ao redor de objetivos específicos, como a “superação da pobreza, da injustiça social e da insegurança”.
Além disso, assegurou que dessa forma seriam derrotadas as tentativas do Arena de “anular o sistema democrático salvadorenho”. Segundo ela, a cidadania, o TSE e a FMLN demonstraram “maturidade e capacidade” e souberam garantir um escrutínio “fiel às leis e à Constituição”. Ao mesmo tempo, Peña pediu à dirigência do Arena para que sejam “sensatos e aceitem o veredito do povo. Nós não temos medo dos violentos, mas esse país já viveu uma longa guerra civil e não podemos brincar com fogo”, concluiu.
Para essa quinta, o Arena marcou novas manifestações contra o resultado, enquanto a FMLN convocou sua militância a simpatizantes para uma concentração na capital neste sábado (15/03) para celebrar a vitória.
*Do Opera Mundi
Fonte: Brasil de Fato