“O hip hop é uma miniatura da sociedade”, diz a jornalista Jéssica Balbino, uma das 52 autoras da segunda antologia lançada pela Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop (FNMH²). A frase, claro, não é um elogio. Longe disso. Segundo ela, o meio reproduz toda a discriminação que a mulher sofre na sociedade, ou seja, exclui ou dificulta sua participação, julga como ser inferior ao homem, paga cachês menores e explora seu corpo como objeto.
Foi para combater a discriminação que a FNMH² resolveu lançar Perifeminas II – Sem Fronteiras, uma antologia com textos sobre o empoderamento feminino que reúne 39 brasileiras e 13 mulheres que vivem em outros países. A obra é uma compilação de histórias, poesias, contos, desabafos e relatos de mulheres que fazem parte da cultura hip hop. Mcs, graffiteiras, b.girls, poetizas, militantes, escritoras profissionais e djéias (feminino de Djs) contam suas lutas dentro do movimento hip hop, em situações que incluem ativismo social, feminino e cultural.
Jéssica Balbino enumera algumas semelhanças entre opressão femina na sociedade e no hip hop: “A maioria dos grupos é composto por homens. Antigamente, para as mulheres serem aceitas, elas tinham que se vestir como eles, de calça larga e camiseta. Poucas mulheres são convidadas para eventos. No ano passado, na Virada Cultural, por exemplo, só tinha grupos masculinos nos palcos de hip hop. Os cachês são menores e, normalmente, quando elas participam de alguma ação, são ações produzidas e promovidas por elas mesmas. Enfim, o hip hop é extremamente machista e misógeno ainda.”
O livro também trata sobre a participação das mulheres na literatura marginal e periférica no Brasil e conta com um estudo de Jéssica Balbino sobre o tema. “A participação feminina na literatura marginal até cerca de três anos atrás era muito pequena. A maioria participava só de antologias que eram mistas e com 90% de escritores homens. De uns anos para cá, isso vem mudando. Algumas passaram a publicar livros individuais e uma vai impulsionando a outra.”
Segundo Balbino, a participação feminina em saraus tem aumentado nos últimos anos. “Antes as mulheres não frequentavam tanto saraus e hoje elas frequentam. O reconhecimento da mulher em outras mulheres faz com que elas estejam nos saraus, que escrevam mais, tirem da gaveta o que já tinham escrito. O livro e os grupos feministas fazem parte de uma conquista de espaço, de uma afirmação feminina.”
O livro, com 104 páginas e capa da ilustradora Caju, é a continuidade de um projeto que surgiu em 2012, quando a FNMH² publicou Perifeminas – Nossa História, com a participação de 62 escritoras. “Obras como estas são fundamentais. É o começo de tudo. Estamos muito longe da situação ideal, mas marca o posinoamento das mulheres na literatura e como representantes de uma cultura, como no caso do hip hop. É a nossa voz marginal periférica”, opina Balbino.
Perifeminas II – Sem Fronteiras está à venda pelo email [email protected] ou na Livraria Suburbano Convicto, especializada em literatura marginal (Rua 13 de Maio, 70, 2° andar, Bixiga – SP).
Preço: R$ 20.
Fonte: Rede Brasil Atual.