Presidente venezuelano acusou o governo panamenho de patrocinar ações de desestabilização em conjunto com os EUA.
Durante discurso nesta quarta-feira (05/05) pelo aniversário da morte de Hugo Chávez, no Quartel da Montanha – onde o presidente venezuelano está enterrado –, Nicolás Maduro anunciou o rompimento das relações diplomáticas e comerciais com o Panamá e recusou a vinda de uma missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) para tratar da recente onda de violência no país.
Veja discurso de Maduro:
Maduro acusou o governo panamenho de patrocinar tentativas de desestabilização, em conjunto com os Estados Unidos. O Panamá pediu pela convocação do Conselho Permanente da OEA devido à situação na Venezuela.”Essa é a pátria de [Simón] Bolívar e precisa ser respeitada (…) Lacaio rastejante, presidente do Panamá”, afirmou, em referência a Ricardo Martinelli. “Decidi romper relações com o Panamá”, anunciou. Segundo ele, Martinelli estaria gerando “lobby” para uma “intervenção estrangeira”.
Neste momento, no mausoléu onde está o corpo de Chávez, militantes do lado de fora se levantaram para aplaudir a decisão do presidente. Em seguida, Maduro falou sobre o atual momento. “Em combate, se comemora o aniversário de um ano” da morte do presidente. Os militantes cantaram “Com Chávez e Maduro o povo está seguro”.
Maduro mencionou diretamente o secretário-geral da OEA, em seguida. “Fique quieto, senhor Insulza. A Venezuela não solicitou um debate na OEA”, afirmou Maduro. A oposição vem pressionando a organização por uma posição “mais firme” sobre os recentes acontecimentos no país.
“E se conseguem autodenominar uma delegação da OEA para vir à Venezuela, teriam de entrar clandestinamente. Não autorizamos!”, ressaltou. “Quem a OEA pensa que é? Nós não acreditamos na OEA, é pouco o que dá pra fazer ali. Nosso destino é a América do Sul”, continuou, para concluir: “Fora daqui OEA, agora e para sempre””.
Túneis
O presidente venezuelano afirmou também no evento que grupos não identificados tentaram atacar túneis, pontes e estradas, em uma nova jornada de protestos em diferentes pontos do país. “Hoje tentaram explodir 15 túneis do sistema nacional (…) tentaram explodir e queimar pontes, viadutos, estradas (…) isto pode ser tolerado? São protestos justos?”, questionou.
Maduro destacou ainda os esforços realizados por seu governo no marco da Conferência Nacional de Paz que lançou na semana passada e ao qual se somaram diferentes setores econômicos, sociais e políticos. Participaram da homenagem a Chávez os presidentes de Cuba, Raúl Castro; Nicarágua, Daniel Ortega, e da Bolívia, Evo Morales, além de representantes de chefe de Estado da América Latina e do resto do mundo.
Memória
Hoje, um desfile cívico-militar e a cerimônia no Quartel da Montanha marcaram as homenagens a Chávez. Além do desfile e da cerimônia, está programada a estreia mundial do documentário Mi Amigo Hugo, dirigido pelo norte-americano Oliver Stone, que será exibido pela rede de TV Telesur.
O filme, de 50 minutos, reúne depoimentos de familiares, amigos, intelectuais e políticos. “Espero que essas entrevistas, juntas, deem uma ideia do amor, do tamanho da falta que ele faz para seu povo”, disse Stone em entrevista à Telesur.
Do lado de fora do quartel, seguidores do chavismo cercavam as grades que protegiam o acesso ao quartel, com cartazes de Chávez, boinas vermelhas. Algumas crianças estavam vestidas de farda militar, em alusão ao passado de tenente-coronel do ex-presidente. A aposentada María Espinosa, de 72 anos conta que foi um ano triste, mas que os chavistas continuaram fiéis ao governo. “Estivemos lutando, porque essa gente [da oposição] não se cansa. Mas eles não vão conseguir devido ao poder do povo”, disse.
Sobre os protestos opositores desatados nas últimas semanas, questionou porque a imprensa internacional não buscou a versão dos moradores de comunidades pobres. “Por que não vêm ver o que está acontecendo aqui? Vão lá, entrevistam os mesmos grupinhos de sempre, mas não falam com o povo”, afirmou, apontando para a região leste de Caracas, que abriga bairros de classe média e alta que protagonizam protestos.
Enfermeira do Hospital Militar, Rosa Gutiérrez, de 49 anos, afirma que os protestos sao originados por filhos ou netos de pessoas “que estavam acostumadas a viver na comodidade sem trabalhar, porque enriqueceram com o petróleo do país por 50 anos”. Moradora da comunidade de Santa Rosa, em Caracas, questionou: “Em que país do mundo os ricos que protestam contra o governo, e as classes baixas não?”. Para ela, a resposta à pergunta é que os manifestantes “são pessoas que se deixam guiar pelos interesses econômicos de outros países”, principalmente dos Estados Unidos.
“Para nós, Chávez não morreu, está bem vivo”, garantiu Ada Meléndez, de 52 anos, vinda de Antímano. “Ele mudou nossas vidas em tudo. Antes víamos muita injustiça” conta ela, que trabalha como arrumadeira em um hospital público. “Essas pessoas que estão fazendo oposicão ao governo não estão lutando pela humanidade. Você acha que eles estão preocupados com os pobres?”, indagou.
Foto: Marina Terra/Opera Mundi
Fonte: Opera Mundi