Os dois últimos anos consagraram o cinema chileno em importantes festivais internacionais, como os de Cannes, Berlim e Sundance, e isso não foi à toa. Por trás dos filmes mais premiados “hechos en Chile”, está a produtora santiaguina Fábula — de Pablo Larraín, diretor de No, entre outros sucessos nacionais e internacionais –, e dois deles estreiam no Brasil na mesma data: 31 de janeiro.
Dirigindo e produzindo, Larraín tem faro para as “boas” histórias. Não só as bem contadas, mas aquelas que têm talento para gerar rápido entrosamento com o público, ancoradas por temas que povoam a vida e a imaginação privadas – e se fôssemos mais sinceros e espontâneos, também povoariam abertamente a esfera coletiva. Eles são, basicamente, a morte e o sexo.
Da morte ele tratou com boa dose de humor negro em dois de seus primeiros filmes, Tony Manero e Post Mortem, sempre tendo a ditadura de Pinochet como pano de fundo. Como produtor foi que ele terminou encarando o sexo, especialmente nas duas obras que serão estreadas por aqui, em abordagens bem diferentes e únicas.
Gloria, de Sebastián Lelio (La sagrada familia, Navidad), é a história de uma cinquentona que, em vez de ficar sozinha em casa depois da debandada dos filhos já mais velhos, decide entrar em um circuito de festas e baladas de solteiros em busca de companhia e sexo. O papel protagônico é de Paulina García, reconhecida atriz chilena de televisão e teatro (que, por sinal, também dirige peças) que levou o prêmio de melhor atuação feminina no último Festival Internacional de Cinema de Berlim. O filme era um dos favoritos da competição pelo Urso de Ouro, e, mesmo sem a estatueta, terminou sendo vendido para 45 países — além de ter dado muito o que falar no Chile.
O diretor diz ter tirado sua inspiração para o roteiro de acontecimentos gerados pela própria vida de Santiago e de casos contados entre amigos. Seu objetivo, conta, era mostrar uma personagem feminina forte, tendo como pano de fundo o Chile atual, em rápida modernização e recém-saído de um debate sobre sua história recente para então encarar um processo interno de reconstrução. Para sua satisfação, a vitória de Paulina foi vivida com euforia no país, e o novo fenômeno social dos homens e mulheres perto da terceira idade curtirem festas e transarem virou tema dos mais falados e debatidos.
Jovem aloucada
Já Jovem aloucada, da estreante em longas-metragens Marialy Rivas, trata o sexo com as cores da adolescência contemporânea, vivida entre blogs e redes sociais na internet. A história surgiu de Daniela, figura real que em seu diário virtual relatava experiências tanto de sua vida evangélica como (bi)sexual e que inspirou o roteiro – bastante premiado mundo afora, graças à linguagem dinâmica e forma tão afins ao universo que aborda.
Fez sua premiada estreia em Sundance em 2012, ano em que ganhou o prêmio da Berlinale Generation (seção do evento dedicada a produções para o público jovem) e foi eleito o melhor filme homossexual de San Sebastián. Em março último, foi considerado o melhor filme pelo público do festival de cinema latino-americano de Toulouse. No Brasil, fez tímida estreia da Première Latina do Festival do Rio no ano de seu lançamento.
O debut comercial de Jovem aloucada em salas comerciais brasileiras vem em um momento adequado, em sintonia com a onda “erótica” em vigor (vide Azul é a cor mais quente e Ninfomaníaca, títulos europeus com a mesma temática atualmente em cartaz). Mas no caso dos chilenos, sexo entre adolescentes, em um contexto de repressão espiritual e social e de moldes que só muito lentamente a sociedade permite que mudem, ganha um sabor latino especial, muito mais próximo da realidade brasileira do que a cultura europeia.
Sendo assim, vale sem dúvida a entrada, assim como tudo o que – pelo menos até agora – inclui “Larraín” nos créditos.
Fonte: Ópera Mundi.