10 de dezembro de 2013.
Não é de hoje que um pequeno setor do bairro Canasvieiras, em Florianópolis, exibe-se como síntese do capitalismo selvagem, lembrando-nos que a barbárie se instalou e se desenvolveu na Ilha de Santa Catarina. O delírio de cidade modelo, fundado em administrações municipais baseadas no marketing e gestos de efeito moral não muda uma correlação de forças injusta na decisão do tipo de cidade que se quer. O uso de solo com a única finalidade do lucro e a falta de interesse social e político pelo outro, o pobre, o doente, o subproduto de reserva do sistema, abre passo à moralidade cínica replicada pelos meios de comunicação.
Canasvieiras já quis ser município separado da Ilha, subvertendo a Constituição Nacional. Mas, é injusto generalizar, é uma minoria dos moradores de Canasvieiras que acalanta esses anseios.
Quem se mobiliza pedindo prisão, despejo, desmaterialização se for preciso, dos mendigos que colhem comida no lixo, sobrevivem na base do álcool e outras drogas e dormem na rua, é aquele que concorre pelo turismo com outras praias. Em Florianópolis existe uma sociedade de classes, injusta e alienada pela mídia local e pelos interesses prioritários dos empresários, representados pela maioria da câmara legislativa e o executivo municipal. Esse manifestante nortenho que pede socorro não reflete nas condições socioeconômicas que fizeram com que a paisagem de Florianópolis fique, a cada dia, mais cheia de miseráveis.
O miserável sempre será delinquente para quem visa o lucro. Assim, o alto empresário é uma criação “do bem”, exemplo a ser seguido. Embora, uma decisão desse empresário possa fabricar milhares de pobres num abrir e fechar de olhos, dependendo do poder e do lobby que patrocine. Já, quem mora na rua, não terá direito sequer a expor sua realidade porque não será ouvido.
Canasvieiras fica em Florianópolis onde tem comida sobrando nas lixeiras do consumismo. Aonde querem que se reportem os miseráveis do sistema?