“Não aceitamos acordos políticos em troca de nossa Terra Tradicional”
Nós, Guarani da terra indígena Araçá’í, denunciamos as manobras políticas que estão sendo arquitetadas por parlamentares de Santa Catarina, com o intuito de impedir o avanço da demarcação de nossa terra tradicional, pressionando o Ministério da Justiça e a Fundação Nacional do Índio para não demarcarem nossa terra. Além disso, tentam nos convencer de que, mudarmos para outra área provisória, é a melhor saída. Com isso, instigam, promovem e fomentam nas regiões, manifestações contrárias à demarcação de nossa terra, alimentando o ódio e o preconceito da sociedade contra nós.
Denunciamos as estratégias desses políticos de estarem organizando estas ações. A última ofensiva é um acordo assinado, sem nossa presença, na compra de uma área em Bandeirantes, no extremo oeste do estado. Não admitimos este acordo feito, coordenado pelo Deputado Estadual Dirceu Dresch e o Secretario da Agricultura do Estado de Santa Catarina, João Rodrigues. Lutamos e sempre lutaremos pela nossa terra tradicional, localizada nos municípios de Saudades e Cunha Porã.
A postura anti-indígena desses políticos, que até recentemente estavam na oposição e se manifestavam favoráveis aos nossos direitos tem, no nosso entender, duas possíveis explicações: primeiro, querem transformar a questão indígena em palanque eleitoral para as eleições de 2014, e com isso arrebanhar os votos de uma grande parcela da população que não aceita os povos indígenas como sujeitos e cidadãos detentores de direitos (preconceito histórico existente na região); segundo, políticos considerados de esquerda não compreendem, e talvez nunca compreenderão a realidade cultural de nossa região e, ao que tudo indica, não têm firmeza ideológica acerca da sociedade que se pretende construir, pois são cooptados pelos interesses econômicos e políticos.
Reivindicamos nossa terra tradicional desde 1998, sofrendo situações extremas ao longo desses quinze anos: desde a retomada que fizemos e a expulsão que sofremos de nossa terra, no ano 2000, até a proibição judicial de retornar ao estado de Santa Catarina, no mesmo período. Desde 2001, estamos vivendo sob 08 hectares da terra indígena Toldo Chimbangue, do povo Kaingang, no município de Chapecó. O reduzido espaço ocupado não permite o cultivo suficiente para garantir a alimentação na aldeia. Com isso, a dependência da assistência dos órgãos governamentais é acentuada. Entretanto, esta assistência tem sido falha e as consequências são visíveis.
A maior responsabilidade por essa situação de violência é do Governo Federal que, além de não realizar a demarcação de nossa terra, vem assumindo, abertamente e sem pudor, uma política desenvolvimentista que converte o meio ambiente, as terras, as águas, as matas, as pessoas em recursos disponíveis para exploração.
Nós, Guarani do Araçá’í, exigimos que a FUNAI faça a demarcação física de nossa terra. E que o Governo do estado de Santa Catarina assuma, de uma vez por todas, a responsabilidade sobre o erro cometido no passado, regulamentando uma lei que já foi aprovada na Assembléia Legislativa de nosso Estado.
Caso o Governo Federal mantenha uma atitude de descaso e omissão diante da grave situação vivida pelo nosso povo, será diretamente responsabilizado pelas violências e por qualquer confronto que por ventura venha a ocorrer.
Comunidade Guarani do Araçá’í
Terra Indígena Toldo Chimbangue
26 de novembro de 2013.