A vitória da direita no DCE da UFRGS

Por Marco Weissheimer.

dce-ufscA oposição à atual gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) venceu as eleições para a direção da entidade, que ocorreram de 19 a 21 de novembro.

A Chapa 3, “DCE de Verdade: Nosso partido é o Estudante”, recebeu 2.461 votos dos mais de 6 mil votos totais.

A chapa vitoriosa teve o apoio do Movimento Estudantil Liberdade, ligado a partidos de direita, que dirigiram o DCE da UFRGS em 2009-2010. A Chapa 1 (situação), com apoio do PSOL, do PSTU, de forças que integram o Bloco de Lutas e dos anarquistas, teve 1.975 votos.

A Chapa 2 (PT/Mudança, PCdoB e outras forças), recebeu 1.250 votos. A Chapa 4 (PCR) fez 266 votos e a Chapa 5 (PT/DS e Articulação de Esquerda) totalizou 134 votos.

A chapa vitoriosa é formada em sua maioria por estudantes de Engenharia, Medicina e Ciências da Computação. Ela é presidida por Lucas Jones, Presidente do Diretório da Computação (DACOMP), que define assim o que chama de “diferencial da chapa”:

“Somos independentes: não somos mandados e/ou comandados por quem quer que seja. Somos empreendedores buscando ajudar colegas, não militantes buscando cargos de confiança. Somos experientes na gestão de diretórios acadêmicos, não experientes em politicagem. Somos colegas voluntários para ajudar colegas, não para influenciar colegas com interesses de partido”.

O resultado é significativo pois ocorre após as grandes mobilizações de junho e julho que deram maior visibilidade pública ao Bloco de Lutas e às forças políticas que participam desse movimento. No contexto do movimento estudantil da maior universidade do Rio Grande do Sul, o saldo político da mobilização massiva nas ruas é uma sonora derrota dentro do maior DCE do Estado.

Paradoxalmente (ou não), o discurso vencedor na eleição da UFRGS repetiu slogans anti-partidos muito ouvidos nas chamadas “jornadas de junho”. O discurso contra os partidos (de esquerda) fez parte do eixo da propaganda da chapa vitoriosa:

Este modelo de movimento estudantil partidarizado está espalhado por todo o Brasil, e tem se mostrado cada vez mais nocivo, pois os interesses dos partidos sempre acabam prevalecendo sobre os interesses dos estudantes, tornando o DCE uma correia de transmissão do pensamento partidário, como ocorre hoje com o nosso DCE, aparelhado pelo PSOL e pelo PSTU. Não podemos esquecer que 2014 será um ano eleitoral e vários partidos estão de olho no DCE da UFRGS, querendo aproveitar-se do espaço, da visibilidade e importância política que tem a nossa entidade para transformá-lo em comitê eleitoral de seus candidatos.

Curiosamente o discurso da chapa vitoriosa só se refere a partidos de esquerda. Como disse Luís Fernando Veríssimo, no Brasil ninguém é de direita, só de modo camuflado. Que sirva de reflexão.

Não é a primeira vez que ocorre e, provavelmente não será a última: um discurso ultra-radicalizado à esquerda denunciando de modo genérico que os partidos e os políticos “não nos representam”, que é contra “tudo isso que está aí” pode acabar encontrando eco na sociedade, só que com o sinal contrário.

As divisões internas e o sectarismo de certos grupos ajudaram também a construir essa derrota. A derrota não é só do Bloco de Lutas, do PSOL, PSTU e anarquistas.

Também é do PT, do PCdoB e de outras forças. Mas é principalmente daqueles que estavam na direção da entidade e das mobilizações de rua de junho que foram a principal novidade na conjuntura política do país nos últimos meses.

Um pingo de humildade e reflexão faria bem nesta hora. A responsabilidade (no sentido literal do termo, de responder pelos próprios atos), na política como na vida, sempre é bem vinda.

Vale a pena ler uma nota oficial da Federação Anarquista Gaúcha que comunicou “apoio crítico à Chapa 1, composta por parte da militância do Bloco de Lutas”.

Ela apontou alguns dos problemas que deveriam ser tema de reflexão:

“Afirmamos este apoio crítico por entendermos que existem uma série de problemas de ordem burocrática que se desenvolveram ao longo das últimas duas gestões do DCE e que pouco se tem trabalhado concretamente na perspectiva de superá-los. Problemas como a ausência de um metódico trabalho de base nos cursos em detrimento da superestimação de uma agitação em torno de palavras de ordem e a centralização de importantes decisões em torno de correntes majoritárias na composição da diretoria. Tal centralização levou a atitudes lamentáveis como a impressão de um adesivo contra a homofobia com a foto de um conhecido militante em uma clara manobra personalista que visa criar um ambiente favorável a uma candidatura. Subtrai-se assim a possibilidade de se acumular em importantes lutas, como a luta contra a homofobia, algo que em nossa opinião deve ser construído pelo conjunto d@s estudantes e não a partir de um indivíduo, de um suposto “grande líder”.

A vida é dura. A política também.

Fonte: Sul 21.

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