Por Lucia Sevegnani*.
Não há morador do vale do Itajaí que não se inquiete diante de uma tempestade eminente, e nem se aflija durante sucessivos dias de chuvas intensas. Em 2008, em dois dias precipitou 500 L/m2 ou 500 mm de chuva, valores nunca antes registrados nesta região. Flagelada há mais de um século por inundações e enxurradas, a população do vale do Itajaí constatou estarrecida que muitas encostas e margens de rios também podiam escorregar matando pessoas e demais espécies, destruindo casas, indústrias, rodovias e escolas. Muitos proprietários além perder suas casas viram desaparecer encosta abaixo também o terreno em que elas estavam construídas.
As duras lições de 2008 ainda permeiam as cabeças, histórias e a economia das comunidades dentro e fora do vale do Itajaí como em Ilhota, Blumenau, Gaspar, Benedito Novo, Pomerode, Timbó, Indaial, estas no Vale, além de Massaranduba, Jaraguá do Sul, Joinville, Garuva, Florianópolis, Camboriú, Itajaí entre dezenas de outras na Vertente Atlântica do Estado.
Perderam a vida, em 2008, 143 pessoas, além de ferir, desalojar e desabrigar milhares de outras. Os poderes públicos federal, estadual e municipais despenderam vultosas somas de dinheiro em projetos de recuperação. Para tanto, foram reconstruídas novas trechos de rodovias e escolas, bem como novos condomínios e residências para os atingidos, iniciativas estas que tentaram dar conforto e minimizar um pouco das perdas da população diretamente atingida. Donativos chegaram ao Vale oriundos das mais diferentes partes deste Estado, do país e também do exterior, mostrando a solidariedade dos povos em situações de calamidade.
Hoje, passados cinco anos, apesar de ter havido também as inundações de 2011 e 2013, vemos novas ocupações nas encostas íngremes e margens dos cursos d’água, aterros de áreas inundáveis diminuindo a capacidade de retenção de água nas planícies, raras ações de educação para os desastres nas escolas e nas associações de moradores e condomínios. As ações mais visíveis são obras estruturais (dragagens, retificações e intervenções nas margens de rios, aterros, cortes em encostas, muitas delas irão agravar as consequências dos próximos eventos de chuva intensa).
Merece destaque positivo, por sua relevância, o sistema de monitoramento da precipitação e da movimentação de solo das encostas em implantação pelo governo.
As Defesas Civis e os demais órgãos do poder público devem agir junto às comunidades no sentido de informar e coibir construções e ações que venham ampliar os desastres naturais nas regiões propensas a estes eventos.
Ressalte-se, porém, que falta intenso programa educativo relativo aos desastres, além de medidas de recuperação ambiental de áreas degradadas em área urbana e rural.
Lembramos, também, que a Acaprena se preocupa com novas obras projetadas para o município de Blumenau, como a rodovia marginal ao ribeirão Garcia, bem como aquelas executadas, e em implantação na bacia do Itajaí e demais municípios de Santa Catarina, que a nosso ver poderão agravar os desastres naturais, a exemplo do que ocorreu em 2008.
*Lucia Sevegnani é presidente Acaprena.