No calor do debate, o formalismo cedeu e, como poucas vezes na discussão sobre o Marco Civil da Internet, as operadoras chamaram a neutralidade de rede pelo verdadeiro nome que tem esse princípio no mundo das telecomunicações: dinheiro.
“Não estamos falando de liberdade, mas sim do velho e bom dinheiro, de modelo de negócios”, disparou o vice presidente da TIM, Mario Girasole, um executivo pouco afeito a tergiversações, durante mais uma discussão sobre o projeto de lei que teve lugar na Futurecom 2013.
Justiça seja feita, não o fez sozinho. O presidente da Telcomp, João Moura, tampouco se valeu das já tradicionais alegorias de que se trata de uma questão que deve ser flexibilizada para “benefício” dos internautas, como tantas vezes – e também neste evento – é repetida.
“O setor perdeu receitas e agora precisa-se buscar outras maneiras de trazer recursos. A questão é quem se apropria do valor gerado e quem incorre no custo. O que tememos é continuarmos a ter uso às vezes até irracional da rede sem a possibilidade de monetizar isso de alguma maneira”, disse Moura.
Na visão das detentoras da infraestrutura, a neutralidade de rede teria consequências até mesmo conceituais para o mercado. “Não pode ter um marco que traga um freerider, que trate as redes apenas como um tubo. As operadoras não podem ser tratadas como um tubo”, insiste Girasole.
Eis o nó, como as teles o entendem. Donas das redes por onde trafegam os bits que fazem a Internet, na essência as operadoras enxergam em empresas como Google, Facebook ou Netflix aproveitadores que montaram seus negócios sobre uma infraestrutura cara sem dividirem os custos para instalá-la ou mantê-la.
Não por menos, provedores de Internet ressaltem que o raciocínio tem uma falha: “Se hoje o Brasil tem mais de 100 milhões de internautas, não é porque as pessoas gostam de corrida de bit, mas porque procuram à Internet em busca de aplicações que façam sentido para elas”, diz Eduardo Neger, da Abranet.
No limite, diz ele, a lógica das operadoras poderia ser invertida. Visto que são as aplicações da rede que atraem os usuários a contratar os serviços de conexão, quem cria tais ‘atrações’ poderia cobrar das operadoras por garantirem o mercado do qual elas se beneficiam.
A CDTV, do Convergência Digital, reproduz o principal debate sobre o tema.
E o posicionamento do vice-presidente da TIM.
Fonte: Convergência Digital