Por João Gabriel Almeida.
São 5h40 da manhã do dia 5 de novembro de 2013. Acabo de ler a mensagem de Cesare Battisti no meu celular que diz: “Caro João, tentei ligar varias vezes ontem a noite. Sinto muito ter que comunicar-te que com pedido formal de ultima hora o Governo me proíbe de participar ao nosso encontro. Peco desculpa a todos mas não depende da minha vontade. Um abraco, Cesare”. Até hoje estive engajado em fazer essa palestra acontecer. Fiquei calado, pois o importante era viabilizar a fala de Cesare. Sem mais essa obrigação, gostaria de dar meu relato pessoal do que foi tentar trazer Cesare Battisti para falar.
Tudo começou final do ano passado. Dorotée Bruchard, a tradutora de Cesare, é estudante da Pós-Graduação em Estudos da Tradução, PGET, da UFSC. Ela queria lançar o último livro de Battisti, publicado final do ano passado. Essa proposta foi negada, já que o programa da pós teve medo de perder convênios firmados com o Governo Italiano. Sou amigo do filho da Dorotée, o qual me contou o ocorrido. Propus ao programa do qual sou bolsista, PET-Letras UFSC, que encampássemos a vinda dele. Com mais ou menos entusiasmo aprovamos a idéia e disso surgiu o evento Quem Tem o Direito ao Dizer, somando-se o grande professor João Wanderlei Geraldi e a APAFUNK, primeiro na pessoa do MC Leonardo e depois na de Mano Teko.
Sabíamos que o assunto era delicado, mas quando vazou pela primeira vez dados sobre a vinda do Battisti para a grande mídia, com matéria feita pelo Cacau dia 4 de julho, tivemos a dimensão de quão árdua seria nossa tarefa. Desde então, com ênfase nas últimas semanas, fomos atacados pelos setores mais reacionários da Universidade Federal de Santa Catarina e da grande mídia, acusados de ladrões do dinheiro público. Tentamos responder a altura, na voz do nosso tutor Fábio Lopes que demonstrou uma coragem rara de se ver em uma Universidade tão estéril.
O mais chocante, para mim, foi ver o silêncio generalizado dos demais setores da sociedade. O jornalismo mais crítico não se pronunciou publicamente, raros foram os professores universitários que falaram sobre isso e sequer organizações e movimentos sociais, avisados a muito da gravidade da situação, posicionaram-se ao público. A direita espraiou o seu discurso livremente, tendo como único inimigo aparente um reles programa da periferia da periferia.
O nome do nosso evento é quem tem o direito ao dizer? Tivemos a resposta na pele. A Universidade pode falar de tudo, desde que seja na voz dos que historicamente ocuparam suas cadeiras: brancos, com relativo acesso ao consumo, já inscritos nos seus hábitos e modos de dizer. É uma instituição caduca que só aceita o Outro na condição de objeto, como um animal exótico. E somos condescendentes com essa postura, muitas vezes reiterando questões como o mérito acadêmico que só aprofundam o direito de dizer do “especialista” e calam os demais. A maioria da população só tem direito de ser falado sobre, ouvir de si como amostragem em estatísticas ou em análises dos que sabem.
Fizemos o possível, mas infelizmente um núcleo de pesquisa, um escritor e um professor aposentado não podem nada em relação ao Governo Federal sozinhos. Mas o evento continua, ainda poderemos ouvir a favela e o MST. Mais tarde haverá reunião do PET-Letras e se terá maiores informações oficiais, inclusive do que será feito em relação ao primeiro dia.
Queria terminar manifestando meu imenso carinho aos demais membros do PET, que seguraram a barra juntos e não recuaram, por maior que fosse a apreensão. Também agradecer ao Lauro Mattei, que segurou o rojão conosco, colocando sua posição em risco. Ao nosso tutor Fábio Lopes que, mesmo sendo “apenas um liberal” como ele mesmo diz, é um dos poucos professores que vejo agindo de forma ética, que age e não se mantém na demagogia. E por último manifestar meu carinho ao Cesare Battisti e ao Carlos Lungarzo. Cada um pode formar a opinião que quiser sobre Cesare, o que eu conheci nesse ano foi um cara que quer somente seguir em frente e não pode porque é usado indistintamente por interesses políticos diversos. No demais, termino parafraseando Darcy Ribeiro e dizendo que fracassei, mas detestaria estar do lado dos que venceram.
Que pena, não pude ver e ouvir Cesare Battisti. Vamos seguir deixando que tampem nossos ouvidos,vendam os nossos olhos, calem nossas palavras.
Sigam ouvindo Cacau Menezes, o filósofo da Ilha da Magia!!
[…] informações tiradas daqui e […]
Estranho. Parece que a maioria das pessoas que criticam a vinda do sujeito e comemoram o seu silêncio não passam de marionetes ignorantes. Não me interessa se ele matou, roubou ou estuprou. Também não me interessa se ele é traficante, terrorista, cristão, judeu ou muçulmano. Ao meu ver, o objetivo principal de trazer o sujeito para a ufsc seria o de permitir que ele expressasse o seu ponto de vista, que desmitificasse a sua história. Ninguém é obrigado a defende-lo ou a gostar dele. Mas ele tem o direito de falar, ou, pelo menos, deveria te-lo. Aos que estão comemorando o desfecho desta situação, muito cuidado. O governo é completamente amoral, e não tomou tal posição por amor, ódio, respeito ou qualquer sentimento valorativo. São apenas interesses. O interesse de hoje, foi cala-lo. Amanhã, nada impede que seja você. Lembre-se disso.
Poderiam chamar no lugar:Zé Dirceu,alguém das Farc,Marcola,Beira-Mar, etc.Todos tambem “excluidos” e perseguidos
Uma pena…
Defendendo um bandido, assassino, terrorista, bancado com dinheiro público. Vocês são uma vergonha para a UFSC!