Uma prisão sul-africana controlada pela empresa de segurança britânica G4S está sendo investigada pelo suposto uso de injeções forçadas e tratamento de choque elétrico para subjugar os detentos, segundo divulgou nesta segunda-feira (28/10) a BBC.
Prisioneiros, guardas e trabalhadores da saúde afirmaram que medicação involuntária foi aplicada diversas vezes no Centro de Correção de Mangaung, perto da cidade de Bloemfontein. A G4S nega qualquer ato de tortura, declarou que não possui evidência de nenhuma prática indevida, mas que está investigando as denúncias.
As revelações surgem apenas algumas semanas depois que o governo da África do Sul assumiu operações de responsabilidade da G4S após descobrir que a empresa tinha “perdido o controle efetivo da prisão”, permitindo esfaqueamentos, motins, greves e uma tomada de reféns.
Um vídeo filmado no dia 24 de maio pela equipe de segurança emergencial da prisão, que deve gravar todas as suas ações, mostra o prisioneiro Bheki Dlamini recebendo uma injeção contra a vontade. “Eu não sou burro”, Dlamini protesta em voz alta, gritando “não, não, não”. Enquanto isso, cinco homens o agarram, torcem seu braço e o arrastam para uma cama em um quarto, para onde uma enfermeira é chamada.
Um funcionário da prisão que não quis ser identificado disse ao WJP (Wits Justice Program), que promoveu a investigação, que os detidos recebiam doses de drogas antipsicóticas, que provocam perda de memória, rigidez muscular, derrames e outros efeitos colaterais, potencialmente fatais. Segundo a mesma fonte, os arquivos médicos de Dlamini não indicavam que ele fosse esquizofrênico ou psicótico, apesar dos remédios que foi forçado a tomar.
Segundo a BBC, em um relato, o ex-membro da equipe de segurança emergencial “Mpho” contou suas experiências quanto ao que chamou de “prática comum” no centro de correção. “Nós tirávamos as roupas deles e jogávamos água para que a eletricidade funcionasse melhor… Alguns deles desmaiavam. Então derramávamos mais água sobre eles e fazíamos de novo”, escreveu.
Evidências
Considerando-se as provas disponíveis, é difícil determinar se o relato de Mpho ilustra práticas comuns na prisão de Mangaung, que abriga cerca de três mil pessoas. Ainda assim, o WJP tem diversos testemunhos de prisioneiros e funcionários comprovando as práticas.
“Ao longo do último ano, eu entrevistei e recebi cartas de quase 30 detentos que nos contaram sobre os choques elétricos e espancamentos, assim como 14 membros de equipes de segurança e relatos de vigias da prisão”, afirma a pesquisadora Ruth Hopkins. De acordo com ela, “os prisioneiros reclamavam de ossos quebrados, sangue na urina e outros vários ferimentos. Alguns disseram que desmaiavam quando os choques se tornavam intensos demais”.
A justificativa de Mpho para tais práticas é a natureza extremamente violenta da prisão, onde diversos vigias foram tomados como reféns, esfaqueados e mesmo estuprados. Segundo ele, os seguranças não tinham proteção adequada para lidar com o tipo de prisioneiro com quem trabalhavam. “Nós queremos que eles tenham medo de nós porque somos poucos”, afirmou.
Outro lado
Questionado pela BBC quanto às alegações de choques elétricos, Andy Baker, chefe regional da G4S para a África, afirmou que duvida “ser possível que tenham sido generalizados”. “Nós trabalhamos com transparência completa e, se houvesse esse tipo de abuso, estaria ali para todos vermos”.
Entretanto, Baker admitiu a existência de “dificuldade, em um ambiente com tantas pessoas e tanto movimento, de dizer categoricamente que nunca houve alguém pisando fora da linha”. “Até onde eu sei, nunca houve um abuso desse tipo ou natureza”, disse.
Sobre as injeções forçadas, Baker afirmou que não são função da G4S, mas de uma equipe médica independente. Em comunicado à BBC, a empresa diz que, enquanto a veracidade do vídeo de Bheki Dlamini não pode ser verificada, “leva essas alegações muito a sério e vai conduzir uma investigação por conta própria”.
Uma investigação do governo sobre a prisão vai apresentar suas conclusões preliminares no final de outubro. Ainda não está claro se elas virão a público.
Fonte: Opera Mundi.