Ocupação norte-americana matou cerca de meio milhão de pessoas no Iraque

Por Marina Mattar.

Cerca de 460 mil pessoas morreram entre os anos de 2003 e 2011 no Iraque por conta da guerra e ocupação norte-americana do país. A estimativa é resultado de uma pesquisa conduzida por estudiosos de diversas universidades sobre a taxa de mortalidade na nação árabe divulgada nesta quarta-feira (16/10) pela revista de medicina PLOS (Livraria Publica de Ciência na tradução livre do português).

Agência Efeatentado iraque maio

Família iraquiana caminha em praça de Bagdá onde, pelo menos sete pessoas foram mortas e 34 ficaram feridas, em maio passado

O relatório indica que mais de 60% dessas mortes foram provocadas diretamente pela violência decorrente da ocupação norte-americana do território: com 35% atribuídas às forças de coalizão, 32% a milícias guerrilheiras e 11% a criminosos. O restante teria sido causado por outros efeitos indiretos da guerra, como, por exemplo, o colapso de infraestrutura e nos serviços.

Segundo os autores, o dossiê refinou a metodologia utilizada nas pesquisas anteriores sobre o tema, baseando-se em críticas realizadas previamente, e procurou abarcar todos os anos de guerra e ocupação do Iraque (2003 – 2011), algo que nenhum outro estudo havia feito. “Os relatórios anteriores cobriram períodos diferentes entre 2003 e 2006 e encontraram diferentes taxas de mortalidade e de mortes atribuídas ao conflito”, diz o artigo. “Todos foram controversos e suas metodologias, criticadas”, acrescenta.

Dessa vez, os cientistas se basearam em dados coletados em entrevistas com iraquianos ao redor de todo o país e de outras estatísticas oficiais.  Entre março e julho de 2011, um grupo de pesquisadores aplicou questionários sobre mortes a 2 mil famílias selecionadas aleatoriamente em 100 áreas geográficas nas 18 províncias do Iraque. Os resultados encontrados foram extrapolados para os 32 milhões de habitantes do país.

Além de inovar o estudo sobre o tema, a pesquisa aponta perspectiva muito mais negativa da invasão dos Estados Unidos em 2003. Sua estimativa do número total de mortes decorrentes da guerra e, posteriormente, ocupação é cerca de quatro vezes maior do que cálculos realizados anteriormente. De acordo com os resultados, a taxa anual de morte no Iraque, entre março de 2003 e junho de 2011, foi de 4,55 por cada mil pessoas; mais de 0,5 vezes maior do que o índice de mortalidade durante as duas décadas precedentes à guerra dos EUA. Nesses anos, o risco de morte, entre os adultos, cresceu cerca de 0,7 vezes para as mulheres e 2,9 para os homens.

Apesar das estimativas alarmantes, os autores acreditam que o número real de mortos deve ser maior. “Claramente, um dos problemas é que estávamos perguntando às pessoas para se lembrarem de um longo período de tempo”, disse Amy Hagopian, da Universidade de Washington, e que coordenou a pesquisa. “Pode haver muito esquecimento e esse esquecimento será a favor de uma conta menor (de mortes)”, acrescentou ela.

Guerra esquecida

O governo norte-americano decretou a retirada de suas tropas do país árabe em 2011. Apesar disso, o conflito, acionado com a invasão dos EUA em março de 2003, continua e atingiu níveis críticos neste último ano.

Fora dos holofotes, os iraquianos sofrem, desde o princípio desteo ano, com um aumento da violência, cujo início coincide com uma mobilização da minoria sunita – um quinto da população total – para denunciar a marginalização que sofre por parte governo, dirigido pelos xiitas, e deixa pairar um ressurgimento do conflito civil que eclodiu após a invasão norte-americana. O cenário atual lembra os piores dias da violência sectária que, entre 2005 e 2007, matava uma média de três mil pessoas todos os meses no país.

Para ler o artigo da pesquisa “Mortalidade no Iraque de 2003 – 2011 associada à guerra e ocupação: descobertas de uma pesquisa survey de amostras nacionais”, clique aqui.

 Fonte: Ópera Mundi

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