Por André Jenichen.
Foto: Marcelo Martins (www.blumenau.sc.gov.br)
Curiosamente, hoje de manhã eu acordei mais cedo do que o habitual. E como estava adiantado no horário, resolvi aproveitar o tempo para fazer uma visita de cortesia ao prefeito. Chegando ao paço municipal, fui atendido de imediato, e com enorme simpatia. Aproveitei para questionar-lhe sobre a campanha, como foi sua eleição e, principalmente, quais foram suas propostas e promessas durante a disputa eleitoral. Percebi que o sorriso do prefeito sumiu logo após minhas perguntas. Na verdade, ele ficou atônito com as indagações. Mas, como bom orador que é logo se recuperou do susto e prosseguiu o discurso. O chefe maior da cidade disse-me: meu caro amigo, – sim, somos amigos, imagino eu! -, eu não fiz promessa alguma durante a campanha. Não precisei deste expediente. Como assim, prefeito? Agora quem não está entendendo nada sou eu, amigo prefeito. Em pleno embate político, o senhor não prometeu nada, nenhuma obra, nenhum feito extraordinário? Como isto é possível? Como se elegeu, então? Percebendo, ele, o meu assombro diante de sua resposta, nosso querido prefeito prosseguiu: André, sente-se aqui, eu vou lhe explicar!
Estávamos no salão nobre da prefeitura municipal. Ao nosso lado, havia uma estante de onde o senhor prefeito retirou um belíssimo livro. Postando-o sobre a mesa, o prefeito prosseguiu. Em nossa cidade, André, não precisamos prometer nada para nos elegermos. E continuou. Aqui nós temos este magnífica obra – o livro [uma espécie de plano diretor da cidade] -, que foi esquematizado há muitas décadas. Neste verdadeiro manual, constam todas as informações e recomendações que devemos seguir. Abrindo o livro, ele passou aos exemplos: hoje, nossa cidade tem aproximadamente 350 mil habitantes. Quando chegar nos 370 mil, eu já deverei ter concluído as obras de mais 3 creches, 2 postos de saúde e 1 escola no bairro “x”, pois, de acordo com o planejamento urbano, para lá será o crescimento da cidade. Mas não é só, continuando sua oratória: chegando aos 400 mil habitantes, o crescimento ordenado e planejado da cidade me diz que deverão estar prontos o novo hospital no bairro “y”, e a ampliação da escola municipal “z”, além da implantação dos corredores de ônibus e ciclovias, a fim de garantir a mobilidade urbana, de qualidade e com toda a segurança possível. Ah, e por força do que está escrito neste manual, deverei ter concluído mais duas praças públicas para assegurar locais seguros e de lazer aos munícipes. No mais, devo manter em funcionamento a cidade. Garantir a assistência às famílias, escolas, postos de saúde, etc. Percebe, agora, por que não prometi nada, nenhuma obra extravagante? Basta o compromisso de seguir os projetos já executados. Dar continuidade ao planejamento da cidade. Sem margem para ciúmes ou picuinhas políticas. E isto é sinônimo de economia ao erário e de tempo, além de conferir segurança jurídica aos munícipes, empresários e futuros empreendedores. Brilhante! Fantástico! Estava prestes a cumprimentar o prefeito quando, de súbito, meu despertador soou. Acordei. Para minha decepção, tudo não havia passado de um sonho. Mas, como diria nosso poeta maior “menor do que meu sonho eu não posso ser”. Em tempo: para os que pensam que isto seria utopia, não é não! Incontáveis cidades espalhadas pelo mundo afora são administradas desta forma, principalmente, cidades alemãs!!
André Jenichen é ciclista e advogado.
Fonte: http://sallysatler.blogspot.com.br/2013/10/visita-ao-prefeito.html