No dia 15 de agosto, Horacio Cartes assumiu a presidência do Paraguai, como culminação de um processo que começou com um golpe de Estado institucional sobre Fernando Lugo, no qual o mandatário não teve respeitados o tempo e os mecanismos para um verdadeiro direito a um julgamento pelo Parlamento e que continuou com o governo de Federico Franco, cuja gestão terminou envolta em graves denúncias de corrupção.A imprensa em geral noticiou naqueles dias que o Partido Colorado voltava ao poder, fato que acabou sendo só parcialmente verdadeiro.
Devemos considerar que Horacio Cartes é a expressão de uma nova direita que está surgindo em nosso continente, onde novas figuras e formas, surgidas de setores conservadores, buscam se adequar aos novos tempos na região. Henrique Capriles, na República Bolivariana da Venezuela, parece ser um dos exemplos mais explícitos dessa situação.
No caso do Paraguai, não é o Partido Colorado nem seu aparato político que ocupam o centro da cena, em vez disso, o atual presidente está constituindo, com rapidez, outro modelo de gestão.
Para isso adotou duas medidas que dão o tom de qual é e será a orientação de seu governo: a lei de militarização e a parceria público-privada. A primeira afirma que o Executivo Nacional poderá enviar as forças armadas “para enfrentar qualquer forma de agressão externa e interna que coloque em risco a soberania, a independência e a integridade territorial do país”, o que obviamente deixa a porta aberta para destruir toda forma de organização social e política organizada, isto é, está instrumentalizada a partir da perspectiva da segurança nacional, cujas consequências os sul-americanos conhecem muito bem. A repressão aos camponeses organizados do interior do país se deteriorou significativamente.
O assunto abre as portas para os processos de privatização, cortes de gastos sociais e demissões de trabalhadores, incluindo a capacidade de abrir aos capitais privados 50% do que o país possui sobre as represas de Itaipu e Yacyretá.
Esta é a base sobre a qual está sendo construindo um novo esquema de acumulação e onde diferentes atores sociais constroem a agenda pública e é por isso que o projeto recebe críticas do Partido Colorado, não pela perda de cargos com os quais esperava recuperar sua burocracia, mas pelo surgimento de um modelo alternativo.
A primeira força política histórica pretendia impor a seu candidato suas condições, mas este homem — empresário reiteradamente vinculado com o narcotráfico e negócios pouco claros — que nunca havia votado nas eleições presidenciais e que para concorrer teve que forçar a Carta Orgânica do partido, começou a construir um tripé de poder baseado nas forças armadas, empresários e nos Estados Unidos.
A presença já a algum tempo de militares estadunidenses, colombianos, israelenses e a localização estratégica do país, com fronteiras comuns com Brasil, Bolívia e Argentina, neste o contexto de militarização que está ocorrendo, é uma questão de preocupação geopolítica para a região.
Com uma estrutura produtiva onde 2% de sua população detêm 80% da terra — na maior parte das vezes por meios ilícitos —, esta equação tripartite cria incerteza, coloca forças populares e progressistas do Paraguai em um enorme desafio e desperta um olhar profundo do resto dos países da região.
*Oscar Laborde é presidente do Centro de Estudos do sul.
Fonte: Aldeia Gaulesa.