Sintrasem.- O programa Mais Médicos criado pelo governo Dilma como parte dos famosos cinco pactos anunciados após as manifestações de junho/julho com o objetivo de suprir a falta destes profissionais no sistema público de saúde conheceu em Florianópolis uma face requintada do boicote ao Programa.
Depois de termos visto um setor corporativista controlado e dirigido pela cúpula das entidades médicas (CFM, FENAM, ABM) que combateu o programa com argumentos muitas vezes preconceituosos, organizou protestos incitando o xenofobismo e por que não dizer que seu rumo orientou atitudes de cunho racista. Vide muitas declarações dirigidas aos médicos estrangeiros, em especial aos cubanos, que na sua maioria são negros. Não pretendemos entrar no detalhe técnico em relação aos cubanos, pois muito já foi mostrado e muito já é feito em Cuba, que possui um sistema de saúde com altíssima qualidade e extremamente eficaz.
Aqui em Florianópolis, o boicote apareceu disfarçado de proteção à qualidade do serviço via decreto. Patético, para não usar outro adjetivo. Florianópolis sofre com a falta de médicos no serviço público. O atual prefeito, inclusive, usou ostensivamente o tema durante sua campanha. No entanto, vivemos uma enorme contradição, pois nossa cidade não faz parte do perfil das cidades que geograficamente distantes de grandes centros têm dificuldade para atrair médicos, o que temos é uma grande concentração de médicos comparada a outras cidades.
Mas por que os médicos não estão no serviço público em Florianópolis? A ausência de um plano de carreira, que valorize a formação e o tempo no serviço público, associado a um baixo piso salarial refém de gratificações, além da falta de condições de trabalho, equipes reduzidas e um território em saúde extremamente complexo sem ou com pouca intersetorialidade tem desmotivado e levado muitos colegas a procurar outros ares, seja na esfera pública ou no setor privado.
Agora sob forte pressão popular e financeira (pois o município não receberia verbas federais associadas ao programa) o prefeito volta atrás e suplica ao governo federal que reinclua a cidade no programa.
O programa Mais Médicos sucinta o início do debate para melhorar a qualidade de saúde pública, mesmo sendo limitado, ele hoje permite aprofundar o debate sobre a necessidade de mais investimentos públicos na saúde (e em todas as áreas) e acabar com a ditadura do superávit fiscal primário que suga mais 40% do orçamento nacional para pagar juros da dívida e a revogação imediata da lei das Organizações Sociais, que terceirizam e precariza o serviço público.
A formação dos trabalhadores da saúde precisa romper com o tecnicismo, altamente focada em especialidades e buscar uma formação voltada ao cuidado individual e coletivo na atenção primária, que segundo a OMS resolveria 80% dos problemas de saúde da população, bem como ampliação do número de vagas nas universidades públicas.
Pois, como sabemos, a saúde se faz com médicos, mas também se faz com equipe multiprofissional, intersetorialidade, recursos tecnológicos eficientes, medicamentos, exames, estrutura física adequada, com carreira para os trabalhadores, redução da jornada de trabalho para 30 horas sem redução de salário garantindo mais qualidade de vida para o trabalhador.