Na segunda (19), os atingidos pela barragem de Garibaldi montaram um novo acampamento em Abdon Batista, na região serrana de Santa Catarina, com moradores dos municípios de Abdon Batista, Cerro Negro, Vargem, Campo Belo do Sul e São José do Cerrito, para cobrar do consórcio construtor da barragem solução para os problemas sociais criados com as obras.
As famílias cobram da Rio Canoas Energia, consórcio responsável pela barragem, solução para os transtornos gerados devido a um erro topográfico que acabou provocando de alagamento em comunidades dos municípios de Vargem e São José do Cerrito. Devido a este erro, o lago ultrapassou sua cota e atingiu comunidades que não deveriam ser alagadas.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que há décadas luta em defesa dos direitos dos atingidos, estimula a organização do povo que está sendo mais uma vez prejudicado com a construção da hidrelétrica.
A luta destas famílias ganhou o apoio do bispo diocesano de Lages, Dom Irineu Andreassa. Segundo Dom Irineu, essas reivindicações devem ser feitas com mobilizações organizadas, caso contrário, os atingidos correm o risco de não terem de volta uma propriedade. “A decisão de reivindicar deve ser conjunta”, argumenta o bispo.
São mais de duzentas famílias nessas condições, ficaram sem suas terra e estão no aguardo de uma decisão do consórcio. Em entrevista a uma rádio da região, Dom Irineu sugeriu que a multa de R$ 10 milhões de reais aplicada pela Fundação de Meio Ambiente (FATMA) à empresa Triunfo, empresa do consórcio, deveria ser revertida em prol dos atingidos.
Na sua opinião, estas situações empurram muitas famílias para as periferias das cidades, onde sem estrutura, acabam entrando para o crime. “A situação das famílias é de desespero”, relatou o bispo. Dom Irineu manifestou sua indignação e cobra com veemência uma atitude das autoridades. “A culpa desta situação é do estado”, salienta o religioso, ratificando o posicionamento de apoio da Diocese de Lages às famílias que aguardam um posicionamento.
Perseguição ao bispo
Nesta região, a justiça tem uma relação muito próxima aos construtores das barragens, quase sempre beneficiando estes em detrimento de quem faz a luta pelo direito dos atingidos. Neste momento, o bispo de Lages, um dos apoiadores históricos da luta dos atingidos e do MAB está sendo ameaçado de multa, caso haja mobilizações mais contundentes dos atingidos.
Segundo Dom Irineu, há um interdito proibitório expedido pela juíza da cidade catarinense de Anita Garibaldi proibindo ações que tranquem a BR 282 ou o canteiro de obra, num raio de dois quilômetros. Em caso de descumprimento desse interdito, está prevista uma multa de 10 mil reais por dia ao bispo.
O MAB manifesta seu repúdio a perseguição contra o bispo de Lages, que apoia a luta dos atingidos e aplica, na prática, o pedido do Papa Francisco: a opção preferencial pelos pobres. Para as lideranças do movimento, o que agora acontece é mais um episódio da violação dos direitos dos atingidos e perseguição aos defensores dos direitos humanos no Brasil.
Usina Hidrelétrica Garibaldi
Rio Canoas Energia é o nome do consórcio formado pela empresa Triunfo para construir e lucrar com a Usina Hidrelétrica de Garibaldi, em Santa Catarina. Ela foi concedida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 30 de julho de 2010 para a Triunfo que passou a ter o direito de explorar a UHE Garibaldi pelo prazo de 35 anos, a partir de 14 de dezembro de 2010.
A UHE Garibaldi foi construída no Rio Canoas, entre as cidades de Abdon Batista e Cerro Negro, em Santa Catarina, e a geração comercial de energia da primeira turbina da usina deve começar neste segundo semestre de 2013.
Fonte: MAB Nacional.