Cientistas afirmam que mudanças climáticas estão intensificando as secas, que já afetam dois milhões de pessoas e podem deixar regiões inteiras inabitáveis
Por Jéssica Lipinski.
Atualmente, a África enfrenta sua pior seca em 30 anos, com efeitos particularmente devastadores para o norte da Namíbia e o sul de Angola. São dois anos de escassez de chuvas nas regiões, que normalmente já sofrem por serem desérticas, e os resultados são aproximadamente dois milhões de habitantes africanos prejudicados, sendo que destes, cerca de 100 mil crianças encontram-se em risco de desnutrição aguda.
Como não é novidade, os cientistas sugerem que, embora não sejam as causadoras desses extremos, as mudanças climáticas os intensificam, e num futuro próximo já podem tornar vários desses locais de condições mais áridas simplesmente inabitáveis.
A frequência desses acontecimentos, que também ocorreram recentemente no Zimbábue, mostra que o problema está longe de diminuir, e a dificuldade em determinar variações climáticas locais agrava ainda mais a situação.
“As mudanças climáticas e a pressão ambiental estão tornando a vida cada vez mais difícil para os mais pobres e mais marginalizados em comunidades remotas, onde a vida diária já é muito desafiadora para as crianças. Escassez de alimentos e água agora aumentam a probabilidade de doenças e desnutrição”, colocou Steven Allen, diretor regional da UNICEF do leste e sul da África, ao mongabay.com.
“Relatórios de campo já indicam que as crianças estão saindo da escola e estão sendo separadas de seus pais, um sinal claro do estresse e vulnerabilidade que as famílias enfrentam à medida que tentam lidar com a seca”, acrescentou Allen.
“A humanidade precisa encontrar formas e meios de mitigar esse efeito”, observou Hifikepunye Pohamba, presidente da Namíbia, quando declarou estado de emergência em maio.
De fato, a intensificação das secas acarreta em diversas mudanças para as estratégias de segurança alimentar, já que, por exemplo, o fenômeno não só prejudica a agricultura como também a pecuária, que depende diretamente da água e vegetais para sobreviver.
Dessa forma, torna-se mais difícil para as famílias garantirem seu sustento direta e indiretamente, já que muitas vezes o gado e seus produtos não são utilizados apenas para consumo próprio, mas também para venda.
A UNICEF está pedindo US$ 21,7 milhões para seus esforços na Namíbia e Angola, sendo que o governo namibiano já forneceu US$ 20,7 milhões para sua população impactada. A entidade afirma que a situação deve se agravar nos próximos meses.
Para controlar esse tipo de crise, em junho a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apresentou informações sobre como pequenos agricultores podem responder às mudanças climáticas.
A lista inclui manejo de solo e nutrientes, melhora na coleta e armazenamento de água, entender e lidar com as mudanças na distribuição de doenças e pestes, utilizar colheitas e sementes diferentes em um mesmo solo, tornar a colheita mais eficaz para evitar perdas, usar espécies de plantas benéficas (armazenamento de água, estoque de carbono, nutrientes para o solo) e programar colheitas conforme o desenvolvimento das plantas.
Os dados mostram que algumas iniciativas levando em conta esses pontos já estão sendo colocadas em prática, como o teste de três novas variedades de trigo mais bem adaptadas às mudanças climáticas na Zâmbia.
Na Etiópia, por exemplo, uma forma inovadora do uso da terra ajudará a segurança alimentar tanto durante secas quanto em tempestades: pequenos grupos de aldeias constroem casas a partir de ramos de eucalipto resistentes, diminuindo o risco de incêndios causados ou pela seca ou por raios.
“Nossa principal prioridade é criar resiliência ao impacto das mudanças climáticas e ajudar nossos agricultores em pequena escala a serem mais autossuficientes”, disse Mulat Andargay, coordenador de projeto.
Além disso, o projeto criou um sistema de coleta de água subterrânea que é canalizada posteriormente para irrigação. “É muito importante para nós. Agora temos muito mais água para irrigar nossos campos, e não apenas dependemos da chuva”, comentou um dos agricultores participantes.
A FAO também afirma que a disseminação de informação também é uma das ações prioritárias no sentido da adaptação às mudanças climáticas, e cita como exemplo a transmissão de previsões meteorológicas, a criação de mecanismos para melhorar a atualização de fontes de dados e a melhora da informação passada aos agricultores no sentido da adaptação.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
Fotos: Federação Luterana Mundial
Fonte: Envolverde.