Por Sally Satler.
Era um dia de chuva, mas de jeito nenhum eu ia desistir. Peguei um ônibus em direção a ‘San Telmo’, munida de mapa pra conhecer a cidadã mais ilustre de Buenos Aires.
Foi tão difícil encontrar essa menina, que cheguei a crer que estava brincando de esconde-esconde comigo. Perguntamos dali, perguntamos daqui, até que parei na padaria para um descanso e um café. Quando sentei, olhando a chuva lá fora pela janela, finalmente a vi. Lá estava, sentada num banco da praça, observando atentamente as pessoas que por ali circulavam. Seus pés suspensos no banco, com o mesmo jeito de moleca das tirinhas do Quino.
‘Mafaldaaaaaaa!’ – Chamei-a bem alto, para que não sumisse. Corri e sentei ao seu lado, curtindo as gotinhas de chuva por uns minutos. Foi quando perguntei:
‘Menina esperta, de onde você tirou essa sua visão de mundo e do ser humano?’
‘Eu não sei, Sally. Mas gosto de observar as pessoas e não entendo o porquê delas fazerem tanto mal ao mundo e a si mesmas. Se todos pensassem mais com o coração, com certeza poderíamos construir um mundo melhor. Eu só digo o que sinto e reflito.’
‘Mas como fazer com que as pessoas vejam e sintam o mundo dessa forma?
‘Ah Sally, estou há cinqüenta anos tentando fazer isso, mas parece que a cada dia as pessoas se tornam mais alienadas e individualistas. Mas eu não desisto! Basta uma só pessoa prestar atenção no que falo, que terei ajudado a mudar um pouco o mundo!’
‘Mafalda, eu te amo! Só espero que muitos de nós acordemos e sejamos mais coração com o Outro e com o Mundo. Só discordo de ti numa coisa…’
‘No quê, Sally?!’
‘Eu adoro sopa! Num dia de frio, então! Bem temperadinha é sempre uma delícia!’
‘Eca!’ – disse a garotinha, correndo pelas ruas de San Telmo.