O tempo está a esgotar-se para a economia e o povo americano. A imprensa financeira e os comentadores econômicos, com poucas excepções, fazem um bom trabalho ao esconder este facto do público.
Considere por exemplo a conversa fiada sobre a “estimativa antecipada” da taxa de crescimento real do PIB para o segundo trimestre anunciada em 31 de Julho. A taxa anual de crescimento de 1,7% do PIB real para o segundo trimestre de 2013 foi apresentada de modo optimista como uma aceleração do PIB real em relação à taxa de crescimento de 1,1% do primeiro trimestre. Contudo, a razão para a “aceleração” no crescimento é que a estimativa do primeiro trimestre foi revista baixando de 1,8% para 1,1%. A taxa de crescimento do PIB real do segundo trimestre também é sujeita a estimativas revistas. Mais provavelmente, o número final será inferior.
Considere também que a razão porque o PIB real é positivo é que o PIB nominal está deflacionado com uma medida atenuada da inflação. A medida da inflação foi manipulada a fim de recusar aos que recebem da Segurança Social os ajustamentos pela alta do custo de vida. O estatístico John Williams ( shadowstats.com ) informa que se deflacionado pela metodologia oficial anterior, o crescimento do PIB tem sido negativo desde a retração em 2007. Por outras palavras, a “recuperação” é apenas mais uma patranha do governo.
Outra falha da imprensa financeira e dos comentaristas econômicos é a interpretação da política da Facilidade Quantitativa (Quantitative Easing, QE) do Federal Reserve. Diz-se que o Fed está a manter baixas das taxas de juro a fim de estimular o investimento nos negócios e o mercado habitacional. Esta explicação não é senão o encobrimento do objectivo real da QE, que é fazer subir e manter alta a dívida relacionada com derivativos nas contabilidades dos bancos demasiado grandes para falirem. Taxas de juro baixos empurram para cima os preços de todos os instrumentos de dívida, e os preços mais altos elevam os valores nos balanços dos bancos, fazendo-os parecer mais solventes ou menos insolventes.
O Fed tem prosseguido a QE durante anos, apesar do fracasso da política de reviver a economia, a fim de manter à distância o colapso dos bancos na esperança de que estes teriam êxito em aumentar suficientemente os seus ganhos para livrarem-se da perturbação.
A política da QE do Fed tem sido custosa para áreas importantes da economia. Aos aposentados foi recusado o rendimento do juro. Este reduziu despesas do consumir e, dessa forma, o crescimento do PIB – e isto forçou aposentados a irem retirando suas poupanças a fim de pagar as suas contas.
A política da QE do Fed também põe em risco o US dólar devido às várias vezes de aumento no número de dólares ao longo dos últimos anos. A fim de apoiar preços de títulos, o Fed criou um milhão de milhões (1000 billions) de novos dólares por ano durante os últimos anos. A oferta de dólares cresceu além da procura por dólares, colocando o valor cambial do dólar sob pressão. Para proteger o dólar da QE, o Fed e seus bancos dependentes do ouro empenharam-se em implacável minimização do ouro a fim de suprimir o seu preço. A ascensão rápida do preço do ouro indicava queda de confiança no dólar e o Fed temia que esta falta de confiança se propagasse aos mercados da divisa.
Ao imprimir dólares para suportar os bancos, o Fed criou uma bolha do mercado de títulos, uma bolha do mercado de ações e uma bolha do dólar. Se o Fed parar de imprimir dinheiro, não só os balanços dos bancos levam uma pancada como também os mercados de títulos, de ações e imobiliários. A riqueza seria liquidada. Já ninguém mais poderia pretender que há uma recuperação econômica.
O impacto sobre o dólar é menos claro. Por um lado, a redução do aumento rápido da oferta de dólares ajudaria a divisa. Por outro lado, a queda nos valores de ativos denominados em dólar, tais como ações, títulos e imobiliário provocaria diminuição da procura por dólares. Estrangeiros por exemplo que vendam ativos baseados no dólar também podem converter seu dinheiro em dólar para as suas divisas internas.
As falhas da imprensa financeira requerem a explicação que tenho apresentado da QE, a economia da bolha, e da mensuração manipulada do PIB real, da inflação e do desemprego. Contudo, embora estas explicações sejam necessárias, elas própria constituem um desvio de atenção.
A razão real porque a economia dos EUA não pode recuperar é que foi movida para o exterior. Milhões de empregos estadunidenses em manufactura e serviços profissionais comerciáveis, tais como engenharia de software, foram transferidos para a China, a Índia e outros países onde os salários são uma fracção daqueles nos EUA. Utilizando o “livre comércio” como cobertura, as corporações transformaram custos do trabalho em centros de lucro. A queda nos custos do trabalho eleva lucros, os quais são então distribuídos para executivos como “bônus de desempenho” e a acionistas como ganhos de capital. O impacto sobre o emprego nos EUA pode ser visto a partir dos dados de emprego em folha de pagamento mensal da BLS e do declínio da taxa de participação da força de trabalho estado-unidense. A taxa de participação está a cair não porque os rendimentos do consumidor estejam a aumentar e menor número de membros da família sejam necessários na força de trabalho. A taxa está a cair porque os trabalhadores desencorajados cessaram de procurar emprego e abandonaram a força de trabalho.
A utilização do trabalho estrangeiro dentro dos EUA é benéfica para executivos e acionistas no curto prazo, mas é prejudicial a prazo mais longo. O efeito a longo prazo é destruir o mercado consumidor dos EUA.
Quando a exportação de empregos travou a ascensão do rendimento do consumidor estado-unidense, a fim de manter a economia em andamento o Federal Reserve substituiu um crescimento da dívida do consumidor pela falta de crescimento no rendimento do consumidor. Exemplo: a bolha habitacional criada pelo governador do Federal Reserve Alan Greenspan permitiu a proprietários de casas gastarem a situação líquida inflacionada das suas casas através do refinanciamento das suas hipotecas. A substituição de dívida do consumidor pelo crescimento em falta nos salários reais é limitada pelo fardo da dívida sobre as famílias. Ao contrário do governo, os cidadãos americanos não podem imprimir o dinheiro com que pagam as suas contas. Uma vez que os consumidores já não podiam arcar com mais dívida, a economia do consumidor cessou de se expandir.
O governo pode imprimir dinheiro para pagar suas contas, mas se a história for um guia, governos não podem imprimir dinheiro para sempre sem graves consequências. A crise econômica real será atingida quando a bolha da economia já não puder ser suportada pela máquina de impressão.
Deveria ser óbvio para economistas, mas aparentemente não é, que empregos tipo Walmart da “Nova economia” não pagam suficientemente para aguentar uma economia dependente do consumidor. Como o programa de Obama é gradual, o poder de compra do consumidor sofrerá mais um golpe. Mesmo os prêmios subsidiados são caros e o custo de utilizar as apólices em termos de deduções e comparticipações será proibitivo para a maior parte. Quando os benefícios proporcionados pelo empregador e o Medicare são reduzidos, a crise nos cuidados de saúde piorará em meio a uma crise econômica.
A parte assustador da crise econômica iminente ocorre quando o défice do orçamento federal se ampliar, a economia se contrair e o próprio Fed se encontrar numa situação em que não pode imprimir ainda mais dólares sem provocar uma perda de confiança no dólar e nos títulos do Tesouro dos EUA. O que faz um governo desesperado numa tal situação? Confisca o que resta de pensões privadas, acumula impostos e conduz o povo e a economia mais profundamente para o chão.
Este é o caminho em que está a política econômica dos EUA. Qual é a solução?
Podia ser permitido ao capitalismo que funcionasse e os bancos falirem. É mais barato salvar depositantes do que salvar os bancos.
Corporações podiam ser tributadas com base na localização geográfica em que acrescentam valor ao seu produto. Se corporações criam bens no exterior que comercializam para americanos, elas teriam uma elevada taxa fiscal. Se criassem valor internamente com trabalho americano, teriam uma taxa fiscal mais baixa. A diferença fiscal podia ser utilizada para compensar a vantagem do custo do trabalho da produção deslocalizada.
Levaria tempo, mas empregos retornariam para os EUA. Cidades, estados e o governo federal vagarosamente veriam suas bases fiscais reconstruídas. Rendimentos do consumidor ascenderiam outra vez com a produtividade e a economia poderia ser reposta de pé.
Quanto ao défice federal, ele poderia ser reduzido significativamente acabando com as guerras de Washington. Como vários peritos estabeleceram, estas guerras são extremamente caras, acrescentando triliões de dólares às necessidades de financiamento do governo dos EUA. Como outros peritos têm mostrado, as guerras não beneficiam ninguém excepto uma pequena clique de indústrias militares/de segurança. Obviamente, não é democrático destruir o futuro de um povo em proveito de interesses especiais.
Podem estar soluções ser implementadas ou estão os interesses especiais arraigados demasiado forte e com visão demasiado curta?
Não há possibilidade de descobrir quando a imprensa financeira e os comentaristas econômicos estão imunes à realidade. Até que a situação real seja entendida, nada pode ser feito. É difícil vender uma solução quando o problema não é reconhecido e entendido. Eis porque concentro-me em explicar os problemas.
[*] Ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA e editor associado do Wall Street Journal. Seu livro mais recente é The Failure of Laissez-Faire Capitalism . Está agora disponível em formato electrônico o seu livro How the Economy Was Lost .
Fonte: Resistir.info