Língua ‘recém-nascida’ é descoberta na Austrália

18jul2013---jovens-do-vilarejo-de-lajamanu-na-regiao-norte-da-australia-formaram-novo-idioma-ouvindo-pais-misturarem-warlpiri-tradicional-ingles-e-crioulo-1374176489248_615x300Um novo idioma foi descoberto em um vilarejo remoto do norte da Austrália, habitado por apenas 700 pessoas.

A nova língua se chama warlpiri rampaku, ou warlpiri rápido, e é falada exclusivamente por menores de 35 anos em Lajamanu, que fica no Território do Norte.

Apesar de ser composto em sua maior parte por estruturas gramaticais e palavras de outros idiomas, a linguista da Universidade de Michigan Carmel O’Shannessy, que descobriu a língua nova, diz que “nos encontramos frente a um novo sistema linguístico, porque aqui se juntam estes elementos de uma forma muito sistemática e tradicional”.

“[O idioma] tem estruturas gramaticais inovadoras que são próprias dele”, afirmou a linguista americana à BBC Mundo.

Mesmo que todos os integrantes da comunidade de Lajamanu falem a língua aborígene warlpiri – idioma que compartilham com outras 4.000 pessoas de várias comunidades australianas -, o inglês e o crioulo (que mistura o warlpiri e o inglês), a metade da população do local fala o warlpiri rápido, inclusive como primeiro idioma.

De certo modo, este novo sistema linguístico pode ser comparado com a linguagem utilizada por adolescentes em qualquer parte do mundo, que criam seus próprios códigos incompreensíveis para adultos.

Mas, a grande diferença apontada por O’Shannessy é que “nestas situações (linguajar criado por jovens), quando os jovens crescem, voltam a falar como o resto das pessoas. Aqui [caso australiano], continuam falando da mesma forma e a geração seguinte de crianças fala assim desde bebê.”

A linguista afirma que o nascimento deste novo idioma provavelmente ocorreu pelo fato de que, “nos anos 70 ou 80 os pais falavam com seus filhos misturando os idiomas e usaram este padrão para falar com eles de forma consistente. Para as pessoas bilíngues é muito comum passar de uma língua para outra no meio de uma conversa”.

Então, segundo O’Shannessy, “quando os filhos começaram a falar, o fizeram seguindo o mesmo padrão” e esta se transformou na forma de falar dos mais jovens.

Fenômeno comum

Apesar de não acontecer com frequência, o surgimento de um novo sistema linguístico pode ser mais comum do que se pensa.

“Acho que ocorre com mais frequência do que ficamos sabendo. O problema é que se não há um linguista para observar, não percebemos, mas é mais provável que apareça em comunidades onde há muitas pessoas multilíngues e uma população jovem interagindo”, afirmou O’Shannessy.

Antes do início da colonização britânica da Austrália, em 1788, existiam no país cerca de 250 línguas aborígenes faladas por aproximadamente um milhão de pessoas. Atualmente, apenas algumas dezenas de idiomas são falados no país.

Quanto ao resto dos idiomas falados no mundo, a previsão de especialistas é que a metade deles, cerca de 7 mil, serão extintas no próximo século. Sendo assim, qual a perspectiva de sobrevivência desta língua recém-nascida?

Para Peter Bakker, professor associado de linguística da Universidade da Dinamarca, especializado no desenvolvimento das linguagens, o futuro do warlpiri rápido é mais promissor do que do warlpiri tradicional.

“Quando uma nova língua se desenvolve, ela costuma ficar muito estável, como, por exemplo, acontece com as línguas crioulas como o papiamento das Antilhas”, afirmou.

Carmel O’Shannessy afirma que apenas o tempo dirá se o warlpiri rápido vai sobreviver, principalmente porque os habitantes de Lajamanu estão sendo pressionados para deixarem de usar as duas línguas.

Fonte: UOL.

Foto: Carmel O’Shannessy

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