Por Elaine Tavares.
A fraca mobilização dos jornalistas em Santa Catarina durante os dois dias de eleição para a direção da Federação dos Jornalistas mostra dois elementos dignos de análise: o primeiro deles é a completa indiferença com relação aos destinos da Federação e o segundo é clara distância entre a vida dos trabalhadores e as questões sindicais. Os dois elementos juntos mostram a falência desse modelo de sindicato que não se encarna na vida real e cotidiana das pessoas, a tal ponto de que a maioria prefere ignorar olimpicamente uma eleição desse porte.
Outro elemento importante foi verificar a baixa votação no interior do estado, com a maioria dos votos se concentrando na capital. Isso também revela a política do SJSC que é de priorizar o trabalho em Florianópolis, sem uma caminhada sistemática pelas redações e espaços de trabalho daqueles que vivem em cidades menores. A recusa em realizar as eleições por um sistema eletrônico também contribuiu para deixar muita gente, apta a votar, de fora do processo, pois as urnas do interior passaram apenas pelas cidades de porte médio.
É digno de nota observar que as urnas volantes que circularam pelas redações da capital capturam poucos votos, com alguns trabalhadores simplesmente se recusando a votar, apesar de a urna estar a poucos passos de suas mesas. Na urna fixa, colocada dentro da sede do sindicato, os votos caíram pingadinhos, geralmente dos jornalistas mais velhos, aqueles que de certa forma sempre estiveram envolvidos com as questões sindicais ou com relações pessoais sólidas com determinadas pessoas das chapas. Importante perceber a ausência quase completa dos jovens jornalistas, absolutamente desinteressados do processo. De novo, o sinal de que o sindicalismo precisa se fazer mais presente na vida real.
Ao final da votação, quando iniciou o processo de apuração, uma das urnas registrou uma irregularidade. Havia 15 assinaturas e 17 votos, sendo que dois deles não tinham assinatura de mesários. A Chapa 2 – Luta, Fenaj!, ao registrar a irregularidade, pediu a impugnação da urna e recebeu uma reação destemperada por parte dos representantes da Chapa 1, Sergio Murilo e Valci Zucolloto que, aos gritos, alegavam: “Se o número de votos não alterar o resultado, não tem importância a irregularidade. Esse tipo de equívoco é normal”. Para o representante da Chapa 2, Caio Teixeira, as regras eleitorais existem para serem cumpridas, não importa se o resultado não será alterado. Se fosse assim, não existiria a necessidade de um regimento. Estranhos argumentos da situação, estranhas práticas. Talvez seja isso o que faz com que determinadas pessoas se perpetuem nos cargos da federação. De qualquer forma, a comissão eleitoral, não acatou o pedido da Chapa 2 e deu prosseguimento a apuração, validando a urna, eliminando apenas os dois votos sem assinatura do mesário.
Ao final da apuração o resultado foi de 136 votos para a Chapa 1, da situação, e 37 votos para a Chapa 2, de oposição. Dois votos nulos e três em branco. Assim, de quase 400 jornalistas aptos para votar, apenas 178 participaram da votação.
Em nível nacional, a tendência se confirmou. Baixa participação, grande indiferença com os destinos da federação. Isso também revela o perfil da Fenaj nos últimos anos. Uma federação longe das demandas cotidianas dos trabalhadores das redações, acadêmica, internista, muito mais perto dos “empreendedores” da comunicação. Perdem os trabalhadores que são superexplorados nas capitais e no interior do país, uma vez que aqueles que dirigirão as políticas para o setor estão muito afastados da realidade do “chão da vida”. A questão que fica é: se o sindicato não representa esses milhares de trabalhadores, que ignoram olimpicamente o que acontece na entidade, como e onde se articulará a luta para garantir direitos e uma vida digna aos jornalistas? Esse é desafio que temos pela frente.