Prisão de criança de 5 anos em Hebron e a dura realidade da Ocupação israelense

Por Guila Flint.

Seis soldados israelenses armados até os dentes fazem um meio círculo em volta de uma criança de cinco anos. O garoto, Wadi Maswadeh, chora incessantemente até a chegada do pai. Mesmo assim, os dois são colocados dentro de um veículo do Exército israelense, que os detém por duas horas, até entrega-los à polícia palestina.

A cena, que pode ser vista no vídeo abaixo, publicado pela ONG de direitos humanos Betselem, uma das mais importantes de Israel, aconteceu na última terça-feira (09/07) em uma região de Hebron conhecida como “cidade fantasma”.

A expressão foi criada depois que 20 mil palestinos deixaram a área desde 1997. Com isso, centenas de lojas e casas no centro da cidade, localizada na Cisjordânia, estão fechadas e vazias.

Em entrevista ao canal 10 da TV israelense, o menino Wadi Maswadeh admitiu que havia jogado a pedra que atingiu um veículo militar israelense que passava pela rua perto de sua casa. Maswadeh e sua família estão entre os poucos palestinos que ainda moram na região, conhecida como “H2”.

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O porta-voz do Exército israelense, por sua vez, confirmou a prisão do garoto de 5 anos, o que viola a própria lei militar que estabelece a idade mínima de 12 anos para responsabilidade penal de palestinos na Cisjordânia.

“Infelizmente, a organização Betselem divulga de maneira tendenciosa esses vídeos para a mídia antes do esclarecimento do assunto pelo Exército. Trata-se de um menino que jogou pedras em uma rua em Hebron, as tropas o detiveram e o entregaram para seus pais. A polícia palestina deverá continuar a cuidar desse assunto”, afirmou o porta-voz militar.

Menores palestinos são detidos frequentemente pelas tropas israelenses, mas Wadi Maswadeh é o palestino mais jovem que já foi preso.

A Betselem emitiu o seguinte comunicado: “Betselem enviou um pedido urgente ao Conselheiro Jurídico em Judeia e Samaria (órgão responsável por monitorar a implementação da lei israelense na Cisjordânia), exigindo esclarecimentos sobre um incidente grave no qual soldados em Hebron mantiveram detida por duas horas uma criança de 5 anos “.

Agência Efe

Imagem do menino com pai, ao ser detido por duas horas pelo Exército israelense

Segundo a ONG, “os soldados ameaçaram o menino e seu pai, algemaram o pai e vendaram seus olhos”, antes de entregarem o menino à policia palestina.

“Deter uma criança abaixo da idade de responsabilidade penal, especialmente tão jovem, não tem justificativa legal”, concluiu a Betselem. Vale lembrar que, para cidadãos israelenses, a idade mínima de responsabilidade penal é de 16 anos.

Histórico de Hebron

A saída em massa dos palestinos da região denominada H2 de Hebron tem origem em 1997, quando foi assinado um tratado entre Benjamin Netanyahu (premiê israelense na ocasião e também na atualidade) e o líder palestino Yasser Arafat.

O acordo de Hebron estabeleceu temporariamente a divisão da cidade em duas áreas. 80% da área total seriam entregues à Autoridade Palestina – área H1. Os 20% restantes, onde fica o centro histórico da cidade e moram cerca de 700 colonos israelenses, ficariam sob controle do Exército de Israel – na já citada área H2.

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Os colonos, conhecidos como os mais fanáticos entre os cerca de 350 mil israelenses na Cisjordânia, moram em assentamentos construídos no centro da cidade.

Hebron, com seus 170.000 habitantes, é a única cidade palestina onde um assentamento israelense foi instalado dentro da própria área urbana.

E não só dentro da área urbana, mas também no centro, onde antes da ocupação israelense em 1967 pulsava o coração da cidade, com mercado, mesquita e até o cemitério.

Na época da assinatura do acordo de Hebron, a liderança palestina esperava que, com o avanço da paz com Israel, os colonos seriam retirados e H2 seria entregue ao controle da AP.

No entanto, 20 anos após a assinatura dos acordos de Oslo (1993), a paz entre os dois povos parece ainda mais distante do que naquela época. Nessas circunstâncias os palestinos de H2 estão longe de ver uma luz no fim desse túnel.

Convivência insuportável

Em decorrência da ideologia fanática dos colonos em H2, a convivência entre as duas populações tornou-se insuportável para cerca de 30 mil palestinos que viviam naquela parte de Hebron.

Sujeitos diariamente a ataques e humilhações por parte de seus vizinhos colonos, e também pelas tropas que estão lá para proteger seus núcleos residenciais, milhares de palestinos começaram a abandonar suas casas e lojas se mudando para H1. A área sob ocupação transformou-se na cidade fantasma de Hebron.

Perto da Tumba dos Patriarcas, onde, segundo a tradição judaica, foram enterrados Abraão, Isaque e Jacó, juntamente com suas esposas, a região do assentamento de Hebron tem um denso significado simbólico e religioso para os dois povos.

A Tumba, chamada pelos muçulmanos de Mesquita de Ibrahim (Abraão, em árabe), é um lugar sagrado para as duas religiões e também se encontra sob controle do Exército israelense, que estabeleceu áreas e dias separados para a oração de judeus e muçulmanos.

Fonte: Ópera Mundi

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