No dia 6 de junho, os jornais de São Paulo ainda repercutiam mortes violentas em tentativas de assalto quando uma primeira manifestação de 150 jovens, aparentemente despretensiosa, aconteceu no centro da cidade, na hora do rush, rumo à Avenida Paulista.
Era o primeiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que nos dias seguintes atrairia os holofotes da imprensa e se espalharia como “epidemia” pelo Brasil, contagiando rapidamente a população de diferentes cidades.
Até quinta-feira, a população saiu às ruas com cartazes para protestar em pelo menos 353 municípios, conforme levantamento feito pelo Estadão em eventos no Facebook e em menções na imprensa regional.
Ao todo, houve pelo menos 490 protestos em três semanas (mais de 22 por dia).
O papel das redes sociais (Twitter e Facebook) foi decisivo para a articulação dos discursos e para divulgar hora e local dos protestos.
Mas a epidemia só ganhou força depois do dia 17, ao monopolizar o noticiário das grandes redes de televisão.
“Fazendo um paralelo com o casamento, esses eventos não têm causa única. O casal não termina porque a toalha foi deixada em cima da cama. Essa toalha pode ser a gota d’água de brigas antigas. O mesmo ocorreu nos protestos, que explodiram por uma longa história de crises enfrentadas em silêncio”, diz o professor de comunicação digital Luli Radfahrer (ECA-USP).
Em São Paulo, os primeiros três protestos aconteceram em um intervalo de seis dias e não ultrapassaram os 10 mil manifestantes.
Mesmo assim, já eram a principal história dos jornais.
O auge foi no dia 20, quando 150 municípios tiveram protestos. Pelo menos 1 milhão de brasileiros foram às passeatas, segundo dados das Polícias Militares de 75 cidades.
Desde Belém, no Pará, até Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. A menor cidade a se rebelar foi Figueirão (MS), que tem 2,9 mil habitantes.
O mote do transporte público foi o mais popular principalmente nas cidades que têm rede de ônibus.
Mas os protestos também ganharam conotações regionais, especialmente nas cidades menores.
Picos (PI), por exemplo, atraiu manifestantes contra os pistoleiros. Coxim (MS) protestou contra os buracos nas ruas e pediu a saída do secretário de obras.
Fonte: DCM.