O que vi do ato de 20/06 em Maceió

CADU

Por Cadu Amaral.

Estive ontem no ato do passe livre (?) em Maceió. A concentração marcada para a Praça Centenário, no bairro do Farol, reuniu mais de 10 mil pessoas e seguiu em direção ao Centro. De lá seguiram para a orla da cidade, mas nesse momento eu não mais estava no ato. Quero deixar claro que mesmo discordando de alguns dos cartazes ali levantados, defendo o direito das pessoas se manifestarem.
O direito à manifestação foi conseguido nesse país a duras penas. Do fim da ditadura até os dias de hoje, 28 anos, é o período democrático mais longo da história do Brasil. Nossa frágil democracia existe, em boa parte por causa dos partidos políticos. O direito de poder se filiar a um ou não é um valor importantíssimo em um regime que se diz democrático.
No ato em Maceió, como, segundo relatos, em outras cidades, um pequeno, mas barulhento e agressivo grupo parte para a intimidação física para TOMAR as bandeiras. Não apenas de partido, mas de qualquer organização da sociedade civil. Postura similar no país, só nas marchas da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que ajudaram a criar o clima de insatisfação do “povo” para a instauração do golpe de 1964.
Dentre os cartazes e falas durante a caminhada se podia ver diversas disparidades como “A PEC 37 é autoria do PT” ou “a Dilma é culpada pelos aumentos das passagens do transporte público”. A PEC 37 é de autoria de um parlamentar do PTdoB e sua relatoria de um parlamentar do PSDB, mas aqui não entro no mérito do seu texto. Aumento de passagem é atribuição das prefeituras e em alguns locais ou, no caso de São Paulo os trens e metrô, dos governos estaduais.
Duas pautas unificam boa parte dessas pessoas que saem às ruas em Maceió: contra partido e contra corrupção. Contra corruptores na há nada; quase nada pedindo reforma política ou agrária. E, me parece, não é coincidência a similaridade dos atos desses dias com os da década de 1960. Não que todos que ali estavam, por vezes repetindo tais palavras de ordem, desejem a volta da ditadura civil-militar, mas reproduz essa política mesmo sem saber ou mesmo negando a política.
Também cabe deixar claro que havia muita gente se manifestando contra os partidos, mas defenderam o direito de levantar a bandeira de um durante a caminhada.
Essa negação também era parte do discurso da TFP. “isso aqui é manifestação social e não política”. Como se existisse qualquer manifestação que não seja política. Outra característica da manifestação aqui e segundo me disseram pessoas do Rio de Janeiro, por exemplo, boa parte dos mais agressivos é jovem de periferia.
Em boa medida usando máscaras, eles soltavam bombas, fizeram “bombas relógio” com cigarros e deixaram em passagem de pessoas entre as plantas na Praça Centenário. Quase todos mascarados, escondendo o rosto. Seja com máscaras de oxigênio ou de pintura e, um número excessivamente grande do personagem V do filme hollywoodiano baseado em um gibi, V de Vingança. O que mostra a imaturidade foram de comportamento baseado nos conflitos do Oriente Médio, lá se usa bandana por questões climáticas e culturais e usar uma máscara que viram em um filme.
Aliás, todo um “movimento” é baseado nesse filme. O Anonymous é um conjunto de crackers que invadem sites na internet e gravam mensagens em vídeos no Youtube. O anonimato é a arma dos covardes e esse movimento não é diferente. Usa da vontade de mudanças de jovens espalhados por aí para que esse realizem seus desejos e se algo der errado, não foi ninguém. “Somos anônimos”.
Após o ato de ontem, me encontrei com alguns amigos que também participaram do evento. Contaram-me que vários assaltos aconteceram dentro do ato. Uma dessas pessoas quase foi assaltada também. Por sorte, o dono de uma padaria localizada no percurso a avisou e seu namorado chegou.
O sentimento de insatisfação de parte da população deve ser levado em conta. Deve ser debatido pelos poderes constituídos e sim, pelos partidos políticos. Mas não se pode tirar da grande mídia a responsabilidade por certas posturas. Criminalização da política; moralismo e individualismo doentio são alguns de seus valores passados diuturnamente e, qualquer semelhança com os movimentos do “povo” que antecederam ao golpe de 1964 não são mera coincidência.
Àquela altura tínhamos no país um presidente de caráter trabalhista. Que propôs as reformas de base e foi para a linha de frente da ação política para torná-las realidade. Com uma postura menos agressiva, mas os governos Lula e Dilma mexeram alguns interesses nunca antes incomodados. Assim como os governos Lula / Dilma não são iguais ao de João Goulart, essas manifestações também não iguais às da década de 1960. São semelhantes.
Negam tudo o que veio antes. Está tudo banhado em um “mar de lama”. E outras coisas do gênero. Se duvida, procure na internet os editorias dos jornalões de 1° e 2 de abril de 1964 ou dos meses que antecederam o golpe civil-militar. Nada onde há intolerância pode ser chamado de “lindo”. Ate o Movimento Passe Livre (MPL) que iniciou todos essas atos em São Paulo saiu da manifestação por conta das posturas fascistas que estavam acontecendo. Fica aqui a dica para caso alguém que esteja extasiado com o ato de ontem para saber que tudo isso pode dar em algo que, provavelmente, você não quer.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.