Líderes de legendas de direita, centro e esquerda, e mesmo de extrema-direita, tomam suas distâncias da morte de Clément Méric, militante de um grupo antifascista morto na quinta-feira 6 após uma briga com um grupo de extrema-direita, em Paris.
Os discursos, é claro, são de condenação.
Manuel Valls, o ministro do Interior, condenou o “assassinato”, ou seja, subentende-se que houve premeditação por parte da gangue de extremistas.
Por sua vez, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), definiu o ato dos skinheads de “inadmissível, e, evidentemente, inaceitável”.
Ao contrário de seu pai, Jean-Marie, que “chocou” a França ao disputar o segundo turno das Presidenciais contra o direitista Jacques Chirac, em 2002, Marine, de fato, tem tentado se desvencilhar de grupos extremistas. Ou pelo menos o faz em várias manifestações.
Jean-François Coppé, líder da direitista União por um Movimento Popular (UMP), falou sobre a necessidade de acabar com “grupúsculos extremistas de direita e de esquerda”.
Na verdade, o discurso de Coppé em relação ao último trágico incidente está em sintonia com a atuação de numerosos de seus companheiros.
Direitistas ditos moderados marcharam nas manifestações contra o matrimônio gay ao lado da líder da Frente Nacional. Não foram, digamos, imagens agradáveis para aqueles que acreditam em uma diferença entre a direita republicana e a extrema-direita.
Coppé, de fato, diz que se a direita vencer as próximas eleições, a lei do casamento gay e adoção homoparental, já aprovada, promulgada e colocada em prática, será reconsiderada.
Donde o discurso do líder da UMP de lutar contra “extremistas de direita e de esquerda”.
Segundo os especialistas de grupos de extrema-direita, a lei do casamento gay radicalizou esses grupúsculos de extrema-direita.
Os diversos grupos extremistas também ficaram enfurecidos com o fato de o atual presidente, François Hollande, ser do Partido Socialista – e ter sido o responsável pela proposição da lei do casamento gay.
Por essas e outras, durante as recentes chamadas Manifestações para Todos, isto é, aquelas contra o casamento gay e a adoção homoparental, extremistas não escassearam.
Confrontos com a polícia – e com jornalistas – foram frequentes.
Somente Jean-Luc Mélenchon, líder do Parti de Gauche, falou com a necessária clareza. Esse ato de violência inaudita foi provocado por “uma cultura metodicamente inculcada e mantida por grupos de extrema-direita”.
Esse discurso vem da Frente Nacional.
E da direita moderada.
Mélenchon também deu nome aos bois.
Os responsáveis pela morte de Clément integravam o grupo Jovens Nacionalistas Revolucionários (JNR). Trata-se de um grupo nacionalista, formado por skinheads e hooligans, que luta contra esquerda e a globalização.
Para os integrantes do JNR, o governo tem de ajudar os franceses, não os estrangeiros.
E, é óbvio, antifascistas têm de ser combatidos.
Clément tinha 18 anos. Era aluno da Sciences Po, a prestigiada universidade de Ciências Políticas da capital. O jovem era também próximo do Parti de Gauche de Mélenchon.
Clément encontrava-se com alguns amigos em uma venda privada de roupas, no centro de Paris. Estranhamente, antifascistas e extremistas xenófobos têm uma predileção por camisas polo Fred Perry, o tenista britânico que ganhou o torneio de Wimbledon em 1934, 1935 e 1936.
O entrevero de Clément começou na loja com três skinheads na noite de quarta-feira 5. Saíram para brigar fora. Clément levou um soco, caiu, bateu a cabeça. Sangue jorrou do nariz e das orelhas do jovem. No dia seguinte ele estava morto.