Apesar de ainda ser um dos países mais desenvolvidos da Europa, a Suécia vem há anos cortando benefícios sociais
Desde 19 de maio, quando a polícia sueca matou um imigrante de 70 anos com problemas psiquiátricos na periferia de Estocolmo, uma onda de protestos populares se espalhou pela capital do país. O assassinato , cometido na localidade de Husby , – bairro onde 85% dos 12 mil habitantes são imigrantes ou filhos de estrangeiros –, serviu de gatilho para as demonstrações, movidas principalmente pela crescente crise econômica e desemprego.
Segundo a imprensa do país, mais de 100 carros foram incendiados no domingo à noite. Nas noites seguintes, houve ataques com pedras contra delegacias e escolas. Os protestos se concentraram em vários subúrbios do sul da capital, embora fatos isolados tenham sido registrados em bairros afastados de Estocolmo e em outras cidades.
Apesar de ainda ser um dos países mais ricos e desenvolvidos da Europa, a Suécia vem desde os anos 1990 reduzindo o papel do estado na economia e promovendo cortes de benefícios e na educação. Os principais afetados são os imigrantes que vivem no país. O desemprego é de apenas 6%, mas salta para 16% entre os estrangeiros.
O primeiro-ministro do país, Fredrik Reinfeldt, liberal democrata, disse que a Suécia não se deixará intimidar por “desordeiros” e que os suecos não serão intimidados pela violência. “A Suécia é um país que recebe grandes grupos de imigrantes, e existe naturalmente um período de transição entre diferentes culturas”, disse Reinfeldt. “Mas é importante lembrar que queimar carros não é um exemplo de liberdade de expressão e sim de vandalismo.”
Debate
O estudante de direito e fundador da associação juvenil Megafonen, Rami al-Khamisi, disse a jornalistas locais que as manifestações são uma reação ao aumento da marginalização dos moradores da Suécia, tanto do ponto de vista racial quanto de classe social. O grupo comunitário apresentou queixas sobre escolas com estruturas precárias para os imigrantes, o desemprego e “racismo estrutural”.
A violência renovou o debate sobre a situação dos estrangeiros na Suécia. O partido anti-imigrante Democratas Suecos atribuiu os distúrbios a uma política “migratória irresponsável”. “Nunca antes foi gasto tanto dinheiro nos bairros de maioria imigrante como hoje”, disse Jimmie Aakesson, líder do partido. Seus argumentos foram reforçados por Richard Jomshof, porta-voz da legenda: “Em Husby, a relação de professores por estudantes é extremamente alta. Há novas bibliotecas, e os centros de apoio aos jovens ficam abertos por um tempo generoso.”
Em 2007, as autoridades lançaram um programa de reabilitação dos subúrbios menos favorecidos de Estocolmo, mas a taxa de desemprego dos jovens nessas áreas continua a ser uma das mais elevadas da Suécia. “Integração é um de nossos principais objetivos sociais, como venho dizendo nos últimos anos”, afirmou o ministro da Integração, Erik Ullenhag. “Mas a questão, no momento, é policial.”
Os protestos lembram os registrados em 2005 em bairros periféricos da França – após a morte de jovens eletrocutados quando fugiam da polícia – e em 2011 nos subúrbios de Londres – depois da morte de um homem de 29 anos pela polícia.
Fonte: Opera Mundi