Por Bel Gomes.
“Som dos viveres tinta das cores incolores.
São os tambores os tambores.”
(TAMBORES. Chico Cesar)
Sim, são tambores, chamado/resposta, que tocam ao longe e reverberam na alma de quem os sente.
Sim, são palavras materializadas que entrelaçam memórias e caminhos culturais.
Sentir as histórias africanas contadas, ouvidas ou escritas, é imergir em uma literatura de combate, de fortalecimento de identidade. É alcançar o olhar dos monandengues, a cumplicidade dos mudiês, a vida nos musseques, é levar o som do ngoma onde for preciso…[1]
É palavra materializada capaz de fazer sentir os pingos da chuva no telhado de zinco:
Mas, cansado do jogo, o vento calou, ficou quieto. Durante algum tempo se sentiram só as folhas das mulembas? e mandioqueiras a tremer ainda com o balanço, e um pírulas?, triste, cantando a chuva que ia vir. Depois, pouco-pouco, os pingos da chuva começaram cair e nem cinco minutos que passaram todo o musseque cantava a cantiga d’água nos zincos, esse barulho que adiantou tapar os falares das pessoas, das mães gritando nos monandengues? para sair embora da rua, carros cuspindo lama na cara das cubatas, e só mesmo o falar grosso da trovoada é que lhe derrotava. […] Com esse jeito choveu muito tempo. (VIEIRA, 19 -, sp)[2]
Então, nesse espaço de troca e leituras, segue minha tentativa de dialogar com essa literatura africana tão (des)conhecida, não na intenção de definir academicamente voz e vez da produção literária africana, mas simplesmente pelo desejo de compartilhar uma literatura (oral e escrita) de tamanha beleza e intensidade. Possibilidade de apreender outro olhar sobre a vida, as infâncias, identidades, enfim sobre as Áfricas.
E que venham mais histórias ao longo dos nossos dias.
[2] VIEIRA, Jose Luandino. Luuanda: Estorias.. [s.l.]: Uniao dos Escritores Angolanos, [19- ].
* Mona — criança.
* Mulemba — árvore de copa volumosa.
* Pírulas — certo pássaro de coloração azul-clara, bico longo e canto vigoroso.
* Monandengue — criança.
* Luando — esteira de folhas utilizada para fazer cercas.
* Imbamba — haveres, pertences.
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Equipe
Poesia e literatura africana interpretadas por Bel Gomes.
Edição: Maria Flor
Design gráfico: Stefano R. Lolli
Legendas: Tali Feld Gleiser
Biografia de Ondjaki: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ondjaki
Ideia genial! Parabéns Boba Velha e equipe.
E já estamos esperando o seguinte. Parabéns a toda a equipe!!!
Raul
Parabéns, Bel!!! Orgulho!