Balanço da nova edição de Túnis 2013

eric toussaint foto bernard borelPor Eric Toussaint.

O Fórum Social Mundial (FSM) encerrou sua nona edição centralizada este sábado, 30 de março, na capital tunesina com um balanço quantificável significativo. Mais de 50 mil participantes; quase mil atividades de todo tipo; uma manifestação de abertura na terça-feira, 26, que reuniu 25 il pessoas e uma concorrida marcha de encerramento em solidariedade ao povo palestino. “Um fórum muito positivo” segundo a análise do historiador e militante social belga Eric Toussaint, coordenador do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), uma das organizações que integram o Conselho Internacional do FSM desde seu início.

Pergunta: Quais são os aspectos mais importantes dessa nova edição do FSM?

Eric Toussaint: Aconteceu uma forte participação tunesina em muitas atividades. Vimos isso, por exemplo, nos cursos e atividades que analisaram o tema da dívida. Também na Assembleia dos Movimentos Sociais, no dia 29 passado. Foi evidente o grande interesse da juventude e dos movimentos sociais a favor dessa iniciativa. Isso constitui um aspecto muito positivo de nosso balanço.

P: Significa que o FSM enquanto espaço sai fortalecido dessa convocatória no Magreb?

R: Sem dúvida! O FSM vive uma certa crise há alguns anos. Em particular, o Conselho Internacional, enquanto instância facilitadora, enfrenta dificuldades enormes para encontrar uma nova dinâmica… E, ao mesmo tempo, o FSM, de maneira incontestável, se mantém como o único lugar e marco mundial onde os movimentos sociais se encontram. Nesse sentido, na ausência de outra alternativa, o FSM continua sendo muito importante. Dado que a sociedade tunesina e da região estão efetivamente mobilizadas, contribui com um lufada de ar fresco e de renovação a esse espaço internacional. O FSM, ao entrar em contato com uma sociedade em movimento, em ebulição, produz uma reação química, uma interação sumamente interessante; e comprovamos isso nessa edição.

P: Segundo seu balanço, o fato de convocar o FSM em um país e em uma região em ebulição poderia servir também, frente ao futuro, de antídoto contra todo risco de institucionalização desse espaço mundial…

R: De fato. Poderíamos imaginar uma próxima edição do FSM no Egito, caso um grupo de organizações desse país deseje recebê-lo, já que o Egito vive uma situação totalmente elétrica, com um movimento sindical proporcionalmente mais forte no setor industrial do que em Túnis e com um campesinato muito golpeado por políticas neoliberais do Banco Mundial e a privatização das terras. Porém, podiam acontecer explosões sociais em outras partes do mundo e seriam inimagináveis cenários diversos.

P: Como desbloquear as dificuldades e certa paralisia que o Conselho Internacional do FSM enfrenta?

R: Não tenho soluções. Constato que uma série de forças que integram o Conselho desejam continuar jogando esse papel. O que Túnis nos ensina é que em um certo momento há que liberar o terreno e deixar espaço para novas forças. Nós, enquanto CADTM, continuamos sendo membros do Conselho Internacional e sabemos que existem atores muito interessantes e dinâmicos com quem colaboramos estreitamente. Porém, vemos também que há uma série de forças muito institucionalizadas que gerem a ‘marca’ do FSM segundo seus interesses.

20130330_fsm asamblea de movimientos sociales foto sergio ferrari

P: Apesar de tudo, sua ideia é que o FSM tem que ser fortalecido…

R: Sem dúvida. O FSM é um espaço útil. Se vê que, com o aconteceu aquí, há uma dinâmica muito positiva que se desenvolve independentemente dos problemas funcionais.

P: No marco desse balanço otimista, quais têm sido os elementos negativos que resultam dessa edição?

R: Entre as organizações que instalaram seus estandes estava a Usaid, que é o organismo de cooperação dos Estados Unidos presente em todas as operações de desestabilização no planeta inteiro. É um instrumento de prologamento da política internacional norte-americana. Portanto, essa organização não tem nada o que fazer no Fórum. É um elemento preocupante já que implica, inclusive, em uma violação da Carta de Princípios de 2001.

Por isso, compreendo àqueles participantes que foram exigir que essa organização saísse do perímetro do campus universitário El Manar, onde o Fórum aconteceu.

Vimos também -da mesma forma que aconteceu na edição anterior de 2011, em Dakar- que a monarquia marroquina enviou uma centena de pessoas com a justificativa de pertencerem a organizações não governamentais sociais. Uma parte deles são policiais que vieram impedir que se expresse nesse espaço o direito a um Estado independente sarahui… Vimos isso em Dakar; vimos também no dia 29 passado na Assembleia dos Movimentos Sociais… Elementos provocadores ligados ao regime marroquino que vieram tomar de assalto a tribuna e tentaram impedir que na declaração dos Movimentos Sociais se faça referência a essa solidariedade necessária. Esse também foi um aspecto negativo, apesar de não ter sido responsabilidade do FSM. Deve-se encontrar os meios para proteger, em particular, aos militantes sociais marroquinos que têm a coragem de defender o direito democrático à soberania nacional.

Fonte: Adital.

Foto 1: Bernard Borel.

Foto 2: Foto Sergio Ferrari.

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