Por Flora Pereira e Natan de Aquino.*
Os parques Uhuru e Central explodem nas ruas de cimento de Nairóbi, quebrando o ritmo do cenário urbano e criando uma faixa verde que abre caminho entre os arranha-céus da capital. São mais de 100 hectares de área arborizada aberta ao público em uma região acessível a todos os moradores. Também não faltam árvores nos bairros que rodeiam o centro e nem nos que beiram os confins da cidade. Estar em Nairóbi é ter a sorte de acessar os desfrutes que um centro urbano oferece e ao mesmo tempo poder continuar em contato constante com a natureza. O mesmo se aplica a muitas outras cidades do Quênia. Mas alcançar esse nível de arborização não foi fácil. Tudo foi fruto da luta de uma mulher que vai ficar para sempre na história do país: Wangari Maathai.
Vencedora do Nobel da Paz em 2004 e consagrada como a primeira mulher africana a receber o prêmio, Maathai foi responsável pelo plantio de mais de 51 milhões de árvores no Quênia. A frente de seu tempo, ela desenvolveu modelos de projetos que hoje são considerados exemplares no mundo do desenvolvimento sustentável. É difícil achar conterrâneos que não tenham se inspirado no seu trabalho, que através da preservação ambiental também abraçava as causas sociais e políticas do país. Maathai faleceu em 2011, mas deixou toda uma escola de pensamento traduzida na inovadora organização fundada por ela, o Movimento do Cinturão Verde (MCV).
O diretor executivo da organização, Edward Wageni conta que desde o início até o fim da cadeia do desenvolvimento de um projeto, o trabalho é feito diretamente com as comunidades, identificando as necessidades locais anteriores à implementação, aplicando o projeto e avaliando os seus resultados sempre em conjunto à população local, em especial com as mulheres. “Elas são as responsáveis por 80% da força do país, são as produtoras de comida e, por isso, estão envolvidas diretamente com as questões do meio ambiente. Para elas, as mudanças climáticas têm um impacto desproporcional e, por isso, é importante que estejam protegidas quando se trata desse assunto”, explica Wageni. Acrescenta que o fato de as mulheres poderem ser exemplos de influência positiva em suas comunidades também é um peso importante para a escolha do foco na força feminina.
Além do Cinturão Verde, Wangari desenvolveu inúmeros projetos e produziu uma rica bibliografia em sustentabilidade e governança. Entre os exemplos de inovação, ela criou um instituto que garante que os alunos universitários com estudos relacionados à preservação possam ter a certeza de trabalhar na área, não desperdiçando conhecimento e pondo em prática o que aprenderam. “Ela não só cunhou um veículo para dirigir sonhos, como também foi a responsável por criar no Quênia o link entre o meio ambiente e a paz. Podemos dar a ela o crédito pela consciência ambiental do país”, ilustra o diretor, lembrando a luta de Wangari para a conscientização de que, se as pessoas não estivessem em harmonia com a natureza, sempre haveria conflitos na sociedade. “Tive o privilégio de trabalhar com ela sentado nesta mesma sala. Você podia perceber o grande compromisso e a paixão. Se tem uma coisa que eu me lembro dela é a coragem e a convicção de que uma vez que se identifica o problema, você deve ir e fazer acontecer. Ela fez o trabalho que fez por 35 anos sem olhar para trás, sem ligar se as pessoas estavam ou não aplaudindo”. O Quênia, que transpira as ações de Wangari Maathai, guia os países africanos para um futuro mais verde.
* do Projeto Afreaka.
Fonte: http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2013/03/12/quenia-a-mulher-que-semeava-parques/