Por Jair de Souza, para Desacato.info.
Nos últimos 15 anos, Simón Bolívar passou a ser uma das figuras históricas mais abertamente odiadas pela oposição direitista da Venezuela, assim como por todos os muitos inimigos de Hugo Chávez que comandam os meios de comunicação em todo o planeta.
Entre os furibundos odiadores de Simón Bolívar encontram-se muitos antigos esquerdistas (ex-trotskistas, ou ex-marxistas), os quais, quando querem desqualificar rotundamente a alguém, tacham-no de “bolivariano”. E nada mais precisa ser dito para que a desgraça esteja lançada sobre esse alguém. A execração está consumada!
Este ódio visceral declarado a Simón Bolívar advém do regaste feito por Hugo Chávez do verdadeiro papel anti-imperialista, popular e revolucionário desempenhado pelo Libertador em seu período de vida. Antes de Chávez entrar em cena, o entranhável ódio que as oligarquias sempre cultivaram contra Simón Bolívar não aparecia de modo aberto e declarado. Cultuava-se a imagem de Bolívar da maneira mais supérflua imaginável, sem jamais fazer menção a seus objetivos, nem contra quais inimigos ele lutou. Ou seja, a vingança das oligarquias contra aquele homem que tantas contrariedades lhes causara era torná-lo uma figura oca, desprovida de qualquer conteúdo social, um real símbolo de superficialidade.
Tudo mudou quando Bolívar foi reinserido em sua verdadeira dimensão revolucionária. Sendo assim, não deveria causar-nos estranheza o fato de que, após ter desfechado o golpe de Estado contra o governo de Hugo Chávez em 2002, a primeira medida do comando da direita oligárquica golpista tenha sido lançar um decretado no qual eliminava o adjetivo “bolivariano” que tinha sido acrescentado ao nome do país pela Constituição de 1999. Assim como foi muito simbólica a imediata remoção do retrato de Simón Bolívar do palácio presidencial naquele momento em que eles acreditavam que já tinham vencido a parada. É que eles não contavam que, poucas horas depois, o povo e as forças armadas legalistas derrotariam o golpe reacionário de direita.
Contudo, o ódio que essas mesmas forças direitistas antibolivarianas nutrem por Hugo Chávez consegue superar em muito seu eterno ódio contra Simón Bolívar. Só isto pode justificar a atual decisão de dar a seu comando de campanha presidencial (o comando de campanha do candidato oligarca Capriles Radonski) o nome de Comando Simón Bolívar. O desejo e a esperança da direita venezuelana é, com tal medida, semear confusão entre o povo bolivariano e, assim, pescar em águas turvas. Parece pouco provável que tenham êxito, mas, sem dúvida, sua intenção está clara.
Nunca tiveram coragem de fazer isto enquanto Hugo Chávez estava vivo, pois sabiam que, para a esmagadora maioria do povo, Simón Bolívar e Hugo Chávez são duas fases históricas de um mesmo personagem. Para este povo, Simón Bolívar é Hugo Chávez, assim como Hugo Chávez é a re-encarnação de Simón Bolívar. Porém, eles pensam que, talvez, essa associação não venha a dar-se com Nicolás Maduro, o sucessor escolhido pelo próprio Hugo Chávez.
Em outras palavras, com o objetivo de derrotar o legado de Hugo Chávez, para esta direita proimperialista e entreguista, vale tudo. Vale inclusive lançar mão do nome de outro de seus mais odiados inimigos e tentar explorá-lo indecentemente.