Por Livia Monte, para Desacato.info.
Entrevista ao vereador de Florianópolis, Tiago Silva, sobre sua visita à Penitenciária Estadual da Agronômica.
Desacato- Quando a Secretária Ada de Luca reuniu-se com os vereadores da nossa Câmara Municipal de Florianópolis, você chegou à conclusão de que o sistema prisional estadual e brasileiro estão falidos. Sua visita à Penitenciária Estadual, em Florianópolis, mudou ou afirmou seu parecer?
Vereador Tiago Silva- Eu vi na minha visita – irei depois fazer uma segunda – que o sistema prisional brasileiro, em especial o catarinense, está falido. Não só na questão do adulto, mas também na da infância. Como você pode perceber o São Lucas foi desativado, foi demolido e não foi reconstruído.
Eu pretendo elaborar um relatório sobre a minha visita, escutei alguns presos e pretendo voltar e conversar com mais alguns para que o mesmo seja amplo, pois na minha visão nós precisamos mudar o funcionamento do presídio catarinense. É necessário construir uma nova saída, a qual proporcione educação para os indivíduos que entram no regime fechado. A maioria deles não teve acesso a ela, então de nada adianta o estado prender em um sistema falido se o mesmo não fornece chance de recuperação.
Temos que tratar de investir na recuperação, porque quando uma criança vai fazer o seu primeiro pedido ao estado, uma vaga na creche, ela não encontra e o reflexo deste descaso está nas penitenciárias.
D- Então, para o senhor a chave da recuperação está na educação?
T.S.- Sim, não existe outro modelo que não inclua a educação. A maioria de presos, lá na penitenciária são: negros, pobres, oriundos de periferias e não tiveram acesso à educação. Tem que haver um choque, um avanço e favorecer que a mesma entre dentro das penitenciárias, se não estaremos apenas pagando um preço caro para manter os presos no cárcere, para que depois saiam pior do que entraram.
D- A seu ver, um preso é uma pessoa recuperável, ressocializável?
T.S.- Ele pode ser recuperado através da educação, não existe outro caminho que não passe por ela. A não inclusão do preso pela educação é o que provoca a falência do sistema prisional.
D- O estado em que se encontra a segurança em Florianópolis é precário, ou há exagero por parte de mídia?
T.S- É o descaso de alguns anos de falência do regime penitenciário. É o reflexo da falência do Estado.
D- Dias atrás o Deputado Estadual, Amauri Soares, deu uma entrevista ao nosso Portal Desacato e afirmou que: “que tudo isso é já consequência da política de estado mínimo que vem sendo instituída no Brasil inteiro há mais de 20 anos. Não se investiu em prevenção…”. Você concorda? E se concorda que significa investir em prevenção?
T.S- O Brasil contemporâneo passou por alguns avanços, principalmente na questão da própria mídia, hoje não se esconde mais nada. Existem as redes sociais que prestam um serviço à democracia, hoje tem o ministério público, hoje eu posso subir na tribuna como muitas vezes já o fiz e faço alguns desabafos, atos que antigamente não podiam ser concretizados.
Estamos caminhando para um país mais democrático, mas a falência do sistema prisional se deu pela falta de educação. Ou fazemos uma revolução nesse campo ou o Estado seguirá construindo presídios apenas para encarcerar pessoas. Temos que fazer o inverso, construir mais escolas, mais faculdades- onde não precise de vestibular e todos aqueles que se aprovarem no ensino médio, possam ser incluídos imediatamente no superior.
D- O que você pretende alcançar com as visitas à penitenciária estadual?
T.S.- É um marco histórico, essa penitenciária em Florianópolis foi construída 85 anos atrás. E foi a primeira vez que uma comissão de parlamentares entra dentro dela. De nada vai adiantar que nas casas legislativas se aprovem leis, severas muitas vezes, se não se conhece a realidade do preso brasileiro. Eu sou de uma política contemporânea de que antes de se apresentar ou aprovar algum projeto é preciso conhecer a realidade e, vou continuar defendendo essa posição.
D- Suas considerações finais, vereador Tiago, e obrigado pelas respostas.
T. S- Quem sabe agora com incentivo da câmara os próprios deputados, o próprio governador, se interessem por visitar a penitenciária – porque ela é o reflexo da sociedade. É a válvula de escape da sociedade contemporânea. Então para se pensar uma cidade diferente, um estado diferente é preciso conhecer essa válvula. Em quatro anos o número de detentos dobrou e isso traduz a sociedade em que vivemos hoje.