Por Milton Temer.
Não falo mais da “perseguida” cubana. Já estou satisfeito com a reação da mídia reacionária ao claro fracasso da tentativa de transformar sua visita ao Brasil em mais um episódio da campanha permanente, e sórdida, contra as dificuldades do regime cubano, sem nenhuma atenção, ou divulgação, aos dados da própria Anistia Internacional quanto ao respeito aos respeito a direitos humanos na Ilha (com exceção, é claro, ao território ocupado pelos EUA na base de Guantánamo, onde tortura e atrocidades sobre suspeitos presos é fato notório).
Sem nenhuma atenção, também, aos métodos de aplicação e aos efeitos de um bloqueio econômico brutal que, mesmo atuando por décadas, impedindo até entrada de medicamentos que não se produzam em Cuba, não conseguiu transformar a penúria em motivo de mobilização social contra o regime. Isto, sim, deveria merecer alguma atenção dos cronistas pós-modernos, tão insistentes na recuperação das “liberdades democráticas” em Cuba.
Por que o povo que, pelo apoio à luta armada, derrubou a ditadura sangrenta de Batista, insiste em manter apoio massivo – sim, apoio massivo, porque tirando os quatro ou cinco grupinhos cujos chefes têm nome e endereço conhecido, e que constantemente fazem manifestações em praça pública sem nenhuma repressão – não sai às ruas contra esse regime “ditatorial”? Teria se acovardado? Teria se acomodado? É o que a objetividade obriga a investigar.
Porque quem viveu a ditadura brasileira sabe que nenhum povo se acomoda, por longo tempo diante de uma ditadura por mais sangrenta que seja. Por acaso, uma Yoani seria viável no Brasil dos anos de chumbo ou no continente da Operação Condor? Seria “desaparecida” imediatamente, como foram muitos e muitas entre os que ousaram se opor. E nem assim as ditaduras se mantiveram.
Luta que Segue, portanto, a despeito da “perseguida” e seu périplo financiado por não sei quem.
Milton Temer é jornalista e dirigente do PSOL no Rio de Janeiro.
Foto: Reuters