A cerca de duas semanas das eleições presidenciais no Equador, que ocorrem no dia 17, o presidente licenciado Rafael Correa lidera as pesquisas de intenção de voto com mais de 60% da preferência dos eleitores. O embaixador do Equador no Brasil, Horacio Sevilla-Borja, disse à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que a prioridade no país vizinho é combater a pobreza com garantias de desenvolvimento sustentável, “seguindo o processo revolucionário” promovido por Correa.
Nas relações com o Brasil, o diplomata disse que o Equador vive uma “época de ouro”, mas lembrou que ainda “falta muito” para assegurar a chamada integração regional. “Com a América Latina unida, estamos criando uma nova arquitetura na região, estamos criando uma nova América Latina não dependente do FMI [Fundo Monetário Internacional], dos Estados Unidos e do Banco Mundial”, ressaltou.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: Que projetos de país estão em discussão nas eleições do Equador?
Horacio Sevilla-Borja: São eleições muito importantes para o Equador. Nos últimos anos, o país viveu momentos de instabilidade política. De 1997 a 2011, foram 11 governos – até as eleições de 2007, quando o presidente Rafael Correa [que tenta a reeleição] foi eleito, conseguindo promover um processo de estabilidade no país. O que está em jogo é [dar continuidade] ao processo revolucionário.
Agência Brasil: Em 2008, logo após sua eleição, Correa defendeu mudanças na Constituição.
HS: Em 2008, foi aprovada uma nova Constituição, pois Correa promoveu plebiscito e a população votou aprovando [a nova Constituição]. O povo disse que sim. O presidente convocou eleições para a Assembleia Nacional e o projeto foi aprovado. A prioridade hoje no Equador é o combate à pobreza, com preservação da natureza [o chamado desenvolvimento sustentável].
Agência Brasil: A disputa envolve o presidente Correa, que tenta a reeleição, e mais sete candidatos?
HS: Sim. O presidente Correa propõe a continuação do processo revolucionário. Há dois candidatos que querem mudanças mais profundas baseadas no socialismo e os outros são mais à direita. São projetos bem distintos.
Agência Brasil: Os candidatos Alberto Acosta e Norman Wray participaram da primeira etapa do governo Correa e agora disputam com ele as eleições. Isso não é estranho?
HS: Sim, eles formaram parte do governo do presidente Correa. Assim são as circunstâncias políticas; agora defendem mudanças mais profundas, mais à esquerda e vinculadas ao socialismo. O ideal era que fizessem parte de uma mesma aliança […]. O Sr. Wray faz parte de um movimento chamado de Ruptura [transformado em legenda] que defende essas mudanças.
Agência Brasil: O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) identificou infrações durante a campanha eleitoral. Isso não representa uma ameaça às eleições?
HS: No Equador, há cinco forças [poderes] independentes. Um deles é o Conselho Nacional Eleitoral, que é independente. O CNE existe para definir regras e fiscalizá-las para que todos disputem as eleições em igualdade de condições, de tal forma que garantam que as regras sejam para todos. Vários organismos internacionais, como a Unasul [União de Nações Sul-Americanas], a União Africana e a Associação de Países Árabes, assim como a Organização dos Estados Americanos [OEA), enviarão missões de observadores ao Equador. Temos também o Poder Cidadão, formado por organizações sociais, com funções que podem levar, inclusive, à destituição do presidente da República.
Agência Brasil: Um eventual segundo mandato do presidente Correa será semelhante ao primeiro?
HS: O presidente Correa seguirá a revolução cidadã. Na primeira etapa, organizou o Estado e definiu as novas regras. A segunda etapa será utilizada para aprofundar os princípios da revolução, agora será mais fácil. As prioridades são a eliminação da pobreza, acabar com o analfabetismo, estimular o ensino superior e gerenciar cada vez melhor os recursos do país.
Agência Brasil: Independentemente do resultado das eleições, como ficará a relação do Equador com o Brasil?
HS: Nos últimos dois anos, o Brasil e o Equador vivem uma época de ouro. A presidenta Dilma Rousseff e o presidente Correa conversam permanentemente. Os chanceleres [ministros das Relações Exteriores] dos dois países se encontraram quatro vezes. Tudo isso para intensificar os projetos de integração. Há empresas brasileiras no Equador e várias que trabalham com financiamentos. O comércio e o turismo foram incrementados. No turismo, por exemplo, foi criada uma linha direta de voo São Paulo-Quito passando por Guayaquil [segunda principal cidade do Equador]. O Equador compra muito do Brasil e estamos nos esforçando para vender muito também. As principais áreas são energia, petróleo e obras. Uma das principais obras é a Manta-Manaus [que consiste em ligar o Porto de Manta, no Equador, ao de Manaus, na Amazônia].
Agência Brasil: O senhor vê muito a ser feito para a chamada integração regional?
HS: Falta muito. Mas o que já foi feito é histórico. Proteger a soberania é impulsionar a América do Sul. Todos os países têm uma razão de existir. O que ocorreu, nos últimos anos, é que os povos latino-americanos elegeram pessoas fora do padrão. O presidente-operário Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] no Brasil, a primeira presidenta mulher brasileira Dilma Rousseff, o presidente Correa no Equador, o primeiro presidente indígena na Bolívia [Evo Morales], o casal Kirchner na Argentina. Com a América Latina unida, estamos criando uma nova arquitetura na região. Estamos criando uma nova América Latina não dependente do FMI [Fundo Monetário Internacional], dos Estados Unidos e do Banco Mundial.
Assista a íntegra da entrevista:
Fonte: Agência Brasil e http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=205059&id_secao=7