O embaixador da República Árabe da Síria, Mohammed Khaddour revelou, na última quarta-feira, como o país tem enfrentado as constantes agressões imperialistas
Portal Vermelho: Depois de dois anos de crise na Síria, qual a real situação do país e como o projeto político de paz de Bashar al Assad vai contribuir para solucioná-la?
Mohammed Khaddour: Sem dúvida que há uma crise na Síria. E essa crise tem repercussões regionais e internacionais. O problema não está nas mãos dos sírios, senão os próprios sírios já teriam resolvido. São as intervenções internacionais que estão deixando a crise se prorrogar e ser ampliada no país. Houve várias iniciativas, tanto árabes quanto internacionais, na tentativa de solucionar a crise e a Síria colaborou com isso, porém todas as vezes que houve uma colaboração ou tentativa de avançar havia outras intervenções internacionais no sentido de abortar tais iniciativas. No momento, a Síria está sofrendo terrorismo contra a própria Síria e contra sua própria população.
O problema agora é que o terrorismo, com o apoio de alguns países internacionais e regionais em todos os sentidos, tanto na forma de munição e armas, como na forma de homens e mercenários e na forma de incentivar os meios de comunicação para manter a situação tensa. Posso confirmar que 90% das pessoas que seguram em armas na Síria, não são sírios. E esses mercenários fazem de tudo para destruir o Estado da Síria, a infraestrutura tanto do setor privado como do setor público. [Mostrou lista de mercenários estrangeiros que foram presos ou mortos na Síria] Essa lista é uma confirmação e uma prova real do interesse dos sírios em tentar solucionar seus problemas apenas entre si, e da sabedoria tanto do povo da Síria quanto da liderança política.
Essa lista de nomes é mais um comprovante que derruba a argumentação que certas televisões internacionais e árabes têm passado da situação interna da Síria. É uma lista parcial dos mercenários que morreram e existem outras listas dos mercenários tanto que morreram como foram presos pelas forças da Síria.
Existem depoimentos de vários destes mercenários presos, dos massacres que eles cometeram e das atrocidades que fizeram. A situação atual da Síria se resume numa luta externa contra o país e não uma luta interna entre os sírios, portanto a crise não é verdadeira como se fala que a crise é entre o governo e seu povo.
Tanto a liderança politica, como Exército e o povo estão todos do mesmo lado, “a mesma mão” lutando contra o terrorismo. Estão firmes em procurar uma saída política entre os sírios para a crise. No dia seis de janeiro deste ano, o presidente Bashar apresentou um programa político no que define uma saída política para a crise e esse programa tem o consentimento de todos os sírios que tem o interesse de solucionar o problema da síria e não aqueles sírios que estão envolvidos com agendas externas e com ações contra o país.
O presidente se baseou neste programa em cima dos princípios definidos pelas Nações Unidas e a lei internacional, e também na declaração de Genebra, acordo feito com diversos países que tem a ver com a crise síria. O programa pretende definir um horizonte político para o país baseado na democracia e no pluripartidarismo.
Este programa é constituído por três etapas: a primeira se refere a um diálogo nacional, nessa primeira etapa, existe um mecanismo para poder atingir os objetivos; a segunda etapa seria elaborar um modelo de constituição, que seria submetido à avaliação e votação dos sírios; a terceira etapa é a formação de novo governo ministerial, baseando-se na nova constituição, elaborada deste acordo nacional. Na terceira etapa, o governo dará uma anistia geral a todos os sírios envolvidos na crise e a partir dai será feita a reconstrução da Síria, há a garantia de permitir entrada e saída dos sírios que quiserem participar, livre transito é assegurado pelo governo, para todos que quiserem participar do acordo. Essa é uma demonstração que há uma séria intenção do governo em atingir solução política entre os sírios, porém existem alguns países que empurram os sírios a se negarem a envolver-se nesse projeto para derrubar o governo da Síria.
O objetivo de querer destituir o governo da Síria é criar uma situação de caos dentro do país, para permitir a instalação de alguns projetos. E isso foi plenamente divulgado pela mídia internacional como o nascimento do “Novo Oriente Médio”. Já tem exemplos como a invasão no Iraque, a divisão do Sudão, os conflitos no Iêmen e, em seguida, partiram com uma ação que chamaram de “Caos criativo”. Como a mídia consegue focar no caos criativo? Há uma contradição entre caos e criatividade. A tentativa de derrubar os governos dos países árabes tem por objetivo instaurar o caos.
Outro objetivo para eles são as guerras entre as religiões e entre as seitas da mesma religião. Por isso têm utilizado de organizações como a Al Qaida e outras organizações radicais para atingir este objetivo. Não querem nem liberdade, nem democracia. O que eles querem é criar o caos e através deste caos atingir seus objetivos para fortalecer Israel, enfraquecendo todos os outros países.
Qual a relação da Síria com o Brasil?
O relacionamento é bom, o Brasil é um país amigo tanto para a Síria como para os países da região, o Brasil é um pais grande e tem ótimos relacionamentos com todos os países do mundo, segue uma politica que apoia os direitos dos povos e dos países e sua posição é clara em relação à crise na Síria. É contra a intervenção externa na Síria e defende que o próprio povo sírio decida sobre seu futuro. O relacionamento é ótimo.
Qual a importância da solidariedade internacional com o povo sírio?
A Síria precisa hoje dos seus amigos, e posso assegurar que quem hoje está do lado da Síria são mais numerosos do quem está contra o país, considerando a Rússia e os países que acompanham, e a China e seus países satélites, África do Sul , Brasil e todos os países da América Latina. Essa é a razão que deu força para o governo e população resistirem contra os ataques e saírem vitoriosos.
A nossa esperança é que haja correspondência em relação ao apoio ao programa, porque atinge os interesses dos sírios, portanto se alguns países do ocidente pretendem o bem do povo sírio este é o plano real à disposição, estamos confiantes que a Síria vencerá e aplicará este programa, nossa esperança é a de que todos ajudem e colaborem com a aplicação deste programa.
Como a mídia age em relação aos acontecimentos na Síria?
A gente reconhece a impotência da mídia árabe perante a grande máquina usada pela mídia internacional a serviço dos interesses ocidentais. A mídia brasileira reproduz o que as agências ocidentais têm publicado, porém pode-se assegurar que nem tudo que transmitem é verdade, isso faz parte do próprio projeto e lhes foi dado financeiramente bastantes recursos. Foram disponibilizados milhões de dólares para a mídia estar a serviço deste projeto do ocidente, fui diretor da TV Síria e sei como funciona. Conheço bem as pessoas que estão por trás da grande mídia árabe.
Em relação ao atentado à universidade de Alepo a mídia ocidental está responsabilizando o governo sírio…
Dentro dessa universidade existe um espaço onde há refugiados sírios de outros lugares. O que houve foram misseis lançados contra essa concentração na Universidade de Alepo. Isso tem o objetivo de denegrir a imagem do governo e seu programa político, isso faz parte da participação da mídia em tais fatos, essa região é protegida pelo governo de Alepo. Não existe nenhum presidente, nenhuma liderança, nenhum Exército, nenhum governo no mundo que queira ver seu próprio povo sendo massacrado e morrendo nas ruas.
Quem luta na Síria, hoje, não são os sírios.
Fonte: Portal Vermelho.
Foto: Joanne Mota