José Nitro, o Nordeste e a criminalização dos pobres

Por Lívia Monte. 

Fotos: Diogo G. Andrade.

Como relacionar Nordeste, criminalização da pobreza e as famílias desapropriadas do bairro José Nitro e entorno?

Muito simples, você só precisa de uma observadora paraense escondida por feições acidentalmente europeias e pele desbotada.  Eu diria que essa condição me deu o privilégio de rir das pessoas confusas que já tentaram arrancar de mim, inutilmente, uma concordância  com o fato de como os nordestinos, nortistas e outros acabaram com o maravilhoso estado de Santa Catarina.

Mas eis o que eu vejo; no início de outubro Djalma Berger, natural de Bom Retiro/SC, cometeu na condição de candidato à reeleição da prefeitura de São José um verdadeiro estelionato eleitoral. O mesmo prometeu à cerca de 200 famílias um terreno próximo ao bairro de Serraria e até assinou um decreto simbólico.  Após ocupação do terreno e a derrota do candidato nas eleições à população foi desapropriada de modo covarde com intermédio de uma enorme força policial. Às famílias  não foi dada a chance de negociação ou locação em outro terreno e até hoje Berger não se pronunciou sobre o assunto nem para mídia, para sociedade ou para as pessoas enganadas pela falsa promessa.

Bom uma situação como essa não é lá muito diferente de certas regiões do norte e o nordeste em que os famosos coronéis até os dias de hoje  fazem a leis. Djalma prometeu o terreno assinou um decreto e pelo não cumprimento o mesmo não foi punido ou responsabilizado pelo Estado.

O destino de algumas famílias foi o ginásio de esportes Jardim Zanelatto e depois por iniciativa própria ocuparam um terreno nas imediações e se autodenominam ocupação do Contestado. O terreno é pequeno para o número famílias, em torno de 150, mas ainda assim aos poucos os barracos têm sido erguidos, a água e a luz improvisadas.

Essas pessoas têm sido constantemente  ameaçadas, com uma nova desapropriação, ou pelo conselho tutelar porque existem crianças na localidade. Fico me perguntando por que o conselho tutelar ao invés de culpar os pais das crianças, não cobram de Berger a responsabilidade por ter colocado crianças naquela situação.

Mas enfim, o nosso país tem sido assolado por uma lógica mercadológica e pela concepção errônea de que o mercado é a solução para tudo, o que torna muito fácil culpar o indivíduo pela sua condição vulnerável. “Não tem casa é porque não trabalha o suficiente para conseguir uma”.

Só é esquecido que não existe trabalho para todo mundo e é preciso que alguns trabalhos paguem misérias para que outras pessoas tenham disponíveis 1 milhão de reais para comprar um empreendimento VVOA. Dessa forma, culpar os pobres pela sua condição de pobreza se torna muito mais fácil do que enxergar que o problema é social,  justificando assim dar as costas para os projetos de habitação popular. Ocupar os terrenos que restam com loteamentos chiques para vender aos ricos a ilusão de maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil.

Felizmente, na segunda-feira, dia 19, alguma visibilidade foi dada às corajosas famílias desapropriadas  através de uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

As conquistas na audiência de acordo com informações das Brigadas Populares, organização política que têm dado suporte à luta das famílias está disponível no site: http://brigadaspopularessc.blogspot.com.br/2012/11/conquistas-da-audiencia-publica-de-hoje.html

Resta agora cobrar que o que foi conquistado seja cumprido para não termos “dejà vu” de terras sem leis  que em minha opinião não se restringem só as mais próximas ao equador.

Quanto a mim vou terminar o texto com um versinho preparado pelas famílias, destinado ao covarde  Djalma Berger.

“Enquanto Djalma mora numa casa linda e bela,

o pobre não tem  lote e nem terreno na favela.

Eu não aguento mais tanta imprudência,

Djalma se esperta e me dá logo a residência.”

 

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