Por Maria Flor.
Para ler ao som de Legião Urbana.
Quero passar o resto a vida colhendo flores. Que cada flor colhida seja um mal arrancado do peito. Para compor esse desabafo, invoco pessoas ilustres:
Sigo o exemplo de Cazuza e sigo em frente, porque “o tempo não para”.
Ouço e repito como um mantra a poesia cantada de Renato: “há tempos são os jovens que adoecem”.
Sinto na alma os versos de Rô, que me convencem de que “amanhã será um dia de sol”.
Colho e planto flores por onde passo. Colho muitas e muitas flores, mas nem todas fazem parte do arranjo da minha coroa. Algumas mal saem da terra e já morrem ofuscadas pela luz do meu sol.
Uma vez, minha mãe me disse que o sonho é um combustível. Na hora, me pareceu verídico, mas agora, diante de tudo, retorno à Renato: “antes eu sonhava, agora já não durmo”.
Enquanto a eletricidade corre por meu cérebro, soltando suas fagulhas, eu apenas colho flores e as refino: Coroa. Lixo. Murchou, lixo. Coroa. Coroa. Lixo. Lixo. Morreu, lixo. O lixo se enche de flores que perderam a cor e, mais uma vez, faço minhas as palavras do poeta do rock: “há tempos o encanto está ausente”.
Continuo colhendo flores e, apesar da imensa dor que sinto, não grito para não acordar a vizinhança inteira e não deixo que meu sorriso enferruje. E se tudo der errado, faço uma prece para que o acaso me estenda os braços quando eu precisar de abrigo e proteção.
Minha tristeza é tão exata e hoje o dia é tão bonito. “E há tempos tive um sonho. Não me lembro. Não me lembro.”
Sigo colhendo flores e repetindo meu mantra, até meus pés cansarem e eu decidir que é hora de sentar na grama e ver o sol, vestindo uma coroa de flores que não secam jamais.
“Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem.”
Maria Flor @floresbicicleta
Foto: Tali Feld Gleiser.