Por Mijal Vaser.
Em primeiro lugar quero dizer: por favor, não me defendam, não desse jeito.
Estou no refúgio da minha casa em Kfar Aza prestando atenção para os bombardeios da guerra de todos contra todos lá fora. Já não consigo distinguir entre “nossas” bombas e as “deles”. Para falar a verdade, as crianças do kibutz o fazem bem melhor. É seu “ouvido musical” que se desenvolveu desde pequenos, hoje eles sabem distinguir entre um projétil de artilheria, um míssil de um helicóptero ou um foguete de Gaza. Bravo.
Isso é uma defesa da casa? Eu não entendo. Será possível que todos nossos líderes pegaram no sono nas aulas de história? Talvez estudaram com programas da escola do Mapai ou de Guideon Saar[2] e interpretaram erroneamente o significado da palavra defesa? A defesa da integridade dos cidadãos significa uma guerra de Gog e Magog a cada tantos anos? Nenhum político escutou a expressão “programação de longo prazo”? Se a sua intenção é me defender, por favor, não nos mandem o exército de Israel para que “triunfe”. Comencem a pensar a longo prazo, e não só nas próximas eleições. Procurem negociar até que saia fumaça branca. Deem a mão a Mahamud Habbas. Acabem com as “execuções seletivas”, olhem no olho dos cidadãos do outro lado.
Eu sei que a maioria do público me culpará de maliciosa. Mas não esqueçam que sou eu quem está aquí e agora, quando os morteiros caírem no meu jardim, não no jardim de Guideon Saar, nem de Benjamim Netanyhau, também não no jardim de Shely Yejimovich nem de Yair Lapid [3]. Eu sozinha escolhi fazer com que meus filhos crescessem aqui, apesar de ter tido e ter outras opções.
Podem me culpar por falta de “sionismo”, podem me culpar por ser frouxa ou ter uma posição ideológica fraca, mas, com certeza não podem me culpar por hipocrisia. Meus filhos se alistaram nas unidades combativas do exército, além de aportar um ano de serviço civil como voluntários para a comunidade de meu país. Moramos aqui e amamos o país. Nossa batalha é pelo caráter do estado e não por seus limites, por sua imagem democrática e pelo respeito aos homens que outro projeta, pela sensatez. Então, por favor, parem de matar pessoas do outro lado da cerca para defender a minha vida.
Se vocês querem é acabar com atos beligerantes do outro lado, destampem seus ouvidos e comecem a escutar. Se nós somos formos importantes para vocês, parem de nos defender com “mísseis”, “execuções”, “dissuasões aéreas”. Em vez de um operativo “Coluna de nuvens” partam para outro chamado “Esperança futura”. É muito mais complicado, se requer uma grande paciência, é muito menos popular, mas é a única saída.
[1] Mijal Vaser é educadora e residente do Kibutz Kfar Aza cujo terreno limita com a cerca que dá para a cidade de Gaza.
[2] Ministro da Educação do atual governo de Netanyahu.
[3] Ambos líderes de partidos opositores ao governo que apoiam o operativo militar.
Versão em português: Projeto América Latina Palavra Viva.