Por Raul Fitipaldi.
Na quarta-feira, meu amigo escritor passou até tarde em casa acompanhando minha convalescência. Mora próximo à praia de Moçambique, na Ilha de Santa Catarina – Desterro. É um veterano alto, magro, de andar erguido. Quando se aproximava por uma rua estreita à sua casa, um grupo de homens jovens, que conduzia um carro a alta velocidade e gritando lhe jogou o bólido encima como simples brincadeira.
Uma estimada e talentosa aluna teve que fugir esta semana fora da cidade, à casa de sua mãe, pois foi agredida pelo seu jovem esposo, profissional formado há pouco na UFSC. Seus braços tinham marcas roxas por toda parte. Apresentou denúncia na Delegacia da Mulher.
Numa lista web que nucleia boa parte da massa pensante estudantil de Florianópolis se debateu nestas horas a agressão brutal recebida por duas estudantes universitárias de parte de um estudante de medicina que afundou a testa de uma das meninas e continuou dançando tranquilamente num ponto de encontro da Lagoa da Conceição.
As duas primeiras manchetes do Diário Catarinense on line às 14:05 de 26 de novembro de 2010, momento em que escrevo estas linhas http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18§ion=capa_online se titulam Onda de Violência e Domínio do Medo.
No final da semana passada e no início da presente, como resultado de uma reflexão e denúncia do jornalista Paulo H. Amorim, dominou o debate local mais uma desastrada intervenção pública do comunicador mais violento da Capital de Santa Catarina e funcionário de destaque do monopólio RBS. Heraldo cotidiano do fascismo, da violência e dos interesses dos poderosos, o pobre homem que responde pelo nome de Luiz Carlos Prates desatou sua fúria novamente contra seu alvo predileto: os pobres (miseráveis, iletrados, analfabetos que tem carro sem ter lido jamais um livro). Esses “miseráveis” não cometeram nenhuma das violências que apontamos contra as estudantes na Lagoa, a jovem talentosa e meu amigo escritor. Também não foram esses miseráveis que produziram o maior escândalo social do presente ano no Colégio Catarinense. Porém, as faltas dos pobres iletrados que detesta e agride o Heraldo da RBS costumam terminar na cadeia, sem advogados particulares nem fianças, e são presa fácil das instantâneas de capa dos jornais e jornaizinhos da rede que domina a incomunicação do Estado. Já os filhos da classe alta, da classe média, os delicados estudantes da UFSC (minoria, registre-se) que atentam diariamente contra tudo aquilo que não responda aos seus caprichos momentâneos são retirados do olhar público como criançinhas confundidas que nunca sabem por que agem de modo tão violento.
Acontece que essa agressão verbal, gestual, e patética do Prates (e as outras violências das classes mais altas), forma parte de uma visão de mundo, de uma modelação do pensamento que abrange todos os meios de comunicação dependentes do capitalismo, daquele Império norteamericano onde se gastam US$ 10 bilhões ao ano para tratar da violência intrafamiliar contra a mulher, por citar apenas um exemplo.
A violência perpetrada pelos ricos, pelos países poderosos, pelos monopólios da produção e da incomunicação, faz parte desta fase de crise estrutural do capitalismo e se intensifica a cada instante, é tal como a crise de dominação do velho modelo reage frente ao seu próprio desgaste. Há no centro da violência verbal e gestual do Prates uma violência de classe. Prates é um bom títere da classe alta à qual não pertence, mas que com ele é obsequiosa, em troca da sua apaixonada discriminação dos não favorecidos. É importante entender que Luiz Carlos Prates não vale nada, porém, que sua mensagem é uma linha global de agressão que se executa para destruir a auto-estima do povo e para justificar o controle militar, repressor e econômico dos pobres, dos excluídos, dos não brancos, não universitários e não “bonitos”.
Preciso é discutir com profundidade, no ensejo da Soberania Comunicacional, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e opinião, qual é o marco que deve ser colocado a um ser desprezível como L. Prates, que nada agrega à sociedade, para que não entre nos lares das famílias catarinenses e lesione a qualquer criança ou adolescente que, por acaso ou descuido dos seus familiares se veja obrigado a assistir ou escutar a um desagregador social, mal informado e agressor proposital, e para que a saúde social não seja prejudicada a cada dia, por TV e por rádio. O problema que esse pobre Prates representa é muito maior do que ele, faz parte das fronteiras entre a liberdade de dizer e o domínio do discurso único. A violência precisa laboratórios, a RBS possui um deles.
Imagem: Bessinha