Portugal: a derrocada da base social de apoio ao governo

Redação de o Diario.info.- As impressionantes manifestações realizadas em 15 de Setembro em Lisboa e diversas outras cidades de Portugal constituem um importante marco na resistência popular, não apenas contra a “troika”, como também contra as políticas das duas troikas – a nacional e a estrangeira.

As palavras de ordem adoptadas (contra a “troika”, contra a “austeridade”, contra o roubo de salários e direitos, contra o desemprego e o afundamento nacional) não permitem qualquer ambiguidade de leitura: elas representam a condenação inequívoca não apenas do actual governo mas do rumo adoptado por sucessivos governos, igualmente responsáveis pela degradação da situação do país. Degradação económica e social, como também degradação democrática.

Ecoaram palavras de ordem em nome da unidade popular, tão vivamente implantadas na memória de Abril. O espírito (e o estado de espírito) destas enormes manifestações formulou-se em forma tão clara forma de profunda indignação e de sentido progressista que é bem possível que, para além do óbvio alarme que certamente causou nas hostes do governo, tenha suscitado também apreensão em alguns dos sectores e personalidades que tinham vindo a colar-se à sua convocatória. Não é apenas a base de apoio deste governo que entrou em colapso, é a perspectiva de uma saída meramente cosmética para actual situação que viu fortemente reduzida a sua margem de manobra.

Duas coisas devem ser claramente afirmadas na sequência destas manifestações. Uma, que elas não surgiram do nada nem representam apenas a ruptura espontânea de uma corda que o governo esticou demais. Surgem na sequência de uma longa, corajosa e tenaz resistência de trabalhadores e populações em todas as frentes da vida nacional, das empresas às escolas, das instituições culturais ao acesso a direitos e serviços públicos, que tem tido expressão numa inumerável cadeia de pequenas e grandes lutas, incluindo magníficas greves gerais. Outra, que elas terão certamente seguimento – de comparável ou ainda de maior amplitude – nomeadamente em outras grandes iniciativas já agendadas, como a Manifestação Nacional convocada pela CGTP para o próximo dia 29 de Setembro.

Que o actual governo tem os dias contados está a tornar-se bem claro. Ainda que uma longa batalha haja a travar para que, mais do que a derrota de um governo, seja derrotada a política que conduziu o país à desastrosa situação actual – de agressão ao regime democrático e à soberania do povo, e de intolerável injustiça social e degradação económica.

Foto: Francisco Seco/AP Photo.

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