Por Juliana Mattos dos Santos*.
É argumento frequente contra a homossexualidade que tal comportamento sexual, se adotado em larga escala, resultaria na extinção da espécie humana. Ora, havendo tanto no comportamento humano que leve à autoextinção, impressiona que alguns comprem essa briga aí (contra a homossexualidade) em vez de se dedicarem à briga contra a guerra, a fome, o consumismo etc. A homossexualidade só diz respeito a quem a vive, não afeta a vida de mais ninguém. Agora o seu consumismo excessivo, sua omissão diante das injustiças sociais, essas sim dependem de mim, de ti, de todos, razão porque isto requer engajamento de todos, enquanto a homossexualidade em si não precisa do seu apoio ou recriminação.
Nunca testemunhei nenhum homossexual tentando convencer alguém a ser homossexual. O motivo disso é que não acreditamos que alguém possa controlar sua orientação sexual. Por essa razão, é-nos odiosa a
Ninguém simplesmente vira gay.
pergunta “quando você virou homossexual?” porque, estamos certos, nunca viramos homossexuais, no sentido de que nunca fomos heterossexuais para então nos transformarmos em homossexuais. Sempre respondo com um “deve ter sido na mesma faixa etária em que você virou heterossexual”.
Embora não seja possível controlar a orientação sexual de alguém, é possível controlar seu comportamento. Por essa razão há muitos homossexuais enrustidos, adotando portanto um comportamento que causa muita dor e sofrimento, podendo até mesmo levar ao suicídio. Reparem, contudo, que não é a homossexualidade que leva à dor e ao sofrimento, mas sim a imposição da heterossexualidade (o que denominamos heteronormatividade, ou a “norma da heterossexualidade”), é a proibição de desfrutar sua orientação sexual de forma saudável. Isso gera, como qualquer tipo de cerceamento social, um sentimento de não pertencimento, de isolamento, que acaba levando ao adoecimento, já que o ser humano é um ser social, um ser que precisa do outro.
“Acho que meus pais ainda não estão prontos pra que eu saia do armário”.
O conceito de “normalidade” pode ser (e é, neste caso) um instrumento de controle social. E são vítimas fáceis desse instrumento aqueles que não inquirem a realidade social ao seu redor. Tanta coisa abominável é normal, não é mesmo? Tanta coisa boa é rara, incomum, anormal, não é? Logo, obedecer ao padrão de normalidade ou não não deve constituir a base de qualquer julgamento de valor a respeito de pessoas. De todo modo, é sempre possível defender que a homossexualidade é natural.
Buddy e Pedro, o famoso casal gay do Zoológico de Toronto.
Sobre esse assunto, recomendo fortemente o filme: “Assim me diz a Bíblia” (download legendado aqui). Ele demonstra que a história do ódio contra os homossexuais é marcada por um forte moralismo de origem religiosa. E bem sabemos todos as atrocidades advindas dos conceitos religiosos de normalidade para controle social (para saber mais a respeito, também vale ler “A História da Sexualidade”, de Michel Foucault). Essa recomendação vai especialmente pra quem não quer sair por aí emitindo preconceitos sem saber nem em que se baseiam nem ao que eles podem levar. Porque, suponho, ninguém é inocente ao ponto de ignorar que esse tipo de discurso de ódio de fundo homofóbico pode levar — e frequentemente leva — à dor, ao sofrimento e à morte de muitas pessoas.
* Juliana Mattos Dos Santos: feminista vegetariana lésbica esquerdista dedicada ao estudo de literatura e de direito.
Já ouvi homens falando de gays que os assediaram no metrô, isso não seria uma forma de impor o homossexualismo aos homens heterosexuais e uma falta de respeito ?
É uma falta de respeito sim, pois é assédio. Assim como mulheres sofrem assédios todos os dias.
Mas não acho que seja uma imposição, afinal, você não estará sendo obrigado a nada. Além do mais, se o cara for hetero, não vai mudar em nada na vida dele, receber cantada de homossexual. Agora se ele for “enrustido”, ai sim, há motivos para se sentir incomodado. Já recebi cantadas de mulheres e não me senti ofendida ou humilhada por isso, porque para mim, não afeta em nada.