Em Angola, o partido no poder desde a independência, o MPLA, e o presidente José Eduardo dos Santos devem vencer as eleições gerais de final deste mês. Prometem uma governação que desenvolva mais o país, melhore a distribuição da riqueza e diminua as injustiças sociais.
A 31 de Agosto, nove milhões de eleitores vão às urnas escolher 220 deputados à assembleia nacional e relegitimar a chefia do estado.
Concorrem nove partidos e coligações e, além do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), as forças políticas com mais probabilidades de eleger deputados são as que já têm assento parlamentar. São elas a Unita, de Isaías Samakuva, o Partido de Renovação Social (PRS), de Eduardo Kuangana, a FNLA, de Lucas Ngonda, e a Nova Democracia, de Quintino Moreira. Não sendo conhecidas sondagens, admite-se que a recém-formada Convergência Ampla de Salvação de Angola, de Abel Chivukuvuku, ex-dirigente da Unita, possa também entrar no parlamento.
A par da assembleia (para a qual serão eleitos 130 deputados num círculo nacional e 90 em 18 círculos provinciais), os angolanos vão escolher o presidente e o vice-presidente da república, os dois primeiros nomes da lista vencedora no círculo nacional. Poucos duvidam que Eduardo dos Santos – coadjuvado por Manuel Vicente, ministro da coordenação económica e até há pouco gestor da Sonangol – será reconduzido à frente do estado e do governo para um mandato de cinco anos. “Zé Du” chegou à liderança em 1979, após a morte de Agostinho Neto, e festejará o seu 70.º aniversário quatro dias antes das eleições.
Em quase 37 anos de independência, este é o terceiro processo eleitoral numa Angola em paz há apenas uma década.
Em 1992, nas legislativas, o MPLA conquistou 54% dos votos, a Unita 34%, o PRS 2% e a FNLA 2%. Em simultâneo, houve eleições presidenciais e Eduardo dos Santos obteve 49% contra 41% de Jonas Savimbi, que se recusou a ir à segunda volta e recomeçou a guerra civil.
Em 2008, meia dúzia de anos depois da derrota e morte de Savimbi, efectuaram-se novas legislativas e o MPLA reforçou a maioria, com 82% dos votos (191 deputados). A Unita desceu para 10% (16), o PRS chegou aos 3% (oito), a FNLA teve 1% (três) e a Nova Democracia elegeu dois deputados.
Hoje, com cinco milhões de militantes, o MPLA define-se como “um partido nacional, independente, progressista e moderno, ideologicamente assente no socialismo democrático”. Está longe do movimento de libertação nacional que encabeçou a luta pela independência ou do partido que dirigiu a partir de 1975 a República Popular de Angola na resistência vitoriosa às agressões militares do “apartheid” sul-africano e dos seus títeres, a Unita e a FNLA (esta chefiada então por Holden Roberto, um agente da CIA).
Com a conquista da paz em 2002 – lembra agora o MPLA no seu manifesto eleitoral –, foram dados passos no sentido da consolidação da estabilidade política, do reforço da democracia, da reconciliação nacional. Ao mesmo tempo lançaram-se as bases para um desenvolvimento económico “impetuoso e robusto”.
Desde então, Angola, rica em petróleo e diamantes, tem crescido – de 2002 a 2008 a uma média anual de 17% do PIB. Com a crise mundial a economia abrandou, prevendo-se que cresça 8,9% em 2012.
Nestes anos, de acordo com o MPLA, significativos avanços foram alcançados na construção, reabilitação e modernização de infra-estruturas produtivas e sociais como escolas, hospitais, postos e centros de saúde, portos e aeroportos. Os caminhos-de-ferro estão a ser recuperados e mais de 6 500 quilómetros de estradas foram construídos ou arranjados.
Graças ao crescimento do sector não petrolífero, os níveis de emprego têm aumentado, elevando o rendimento das famílias e baixando os níveis de pobreza e de miséria. Desde 2008 foram criados mais de 700 mil postos de trabalho na agricultura e pescas, na construção, no comércio, na energia e águas, no turismo.
O governo diz que o crescimento económico e as políticas sociais implementadas levaram a que a pobreza em Angola tivesse uma queda acentuada, passando de 68% em 2002 para 36,6% em 2009.
O MPLA está consciente de que muito ainda há a fazer para que o desenvolvimento “chegue ao lar e ao coração de cada angolano de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste”. O foco do programa de governação para o período 2012-2017 continuará a ser o combate à fome e à pobreza extrema e o aumento da qualidade de vida do povo angolano, “transformando a riqueza material que constituem os recursos naturais de Angola em riqueza real e tangível dos angolanos”.Os herdeiros de Agostinho Neto assumem o compromisso de “mobilizar todos os angolanos interessados em contribuir para o progresso do país” no sentido de dar “o passo que ainda falta para fazer de Angola um país cada vez mais próspero, moderno e em que impere a justiça social”.
E, na perspectiva das eleições de 31 de Agosto, prometem uma “Angola a crescer mais e a distribuir melhor”, ou seja, um processo de desenvolvimento em que as enormes riquezas do país beneficiem não apenas uma minoria privilegiada mas todo o povo trabalhador.
(Este artigo foi publicado no jornal “Avante!” n.º 2019, de 09/08/12)
Fonte: http://www.odiario.info/?p=2578
Foto: Página Global.