De todas as problemáticas existentes na região amazônica, o consumo exacerbado e contínuo é o maior provocador e o mais difícil de ser combatido. Segundo Wagner Costa Ribeiro, geógrafo e professor, o problema ambiental não está prioritariamente relacionado com o crescimento populacional, mas sim com o estilo de vida que levamos, que estimula o consumismo desenfreado e, consequentemente, acelera a escassez dos recursos naturais. “A água está presente em todos os processos de produção, e esta escala está atrelada principalmente ao aumento de renda e urbanização”. Nos últimos cinquenta anos, a população mundial cresceu três vezes, enquanto o consumo individual de água dobrou em cima deste crescimento, o que demonstra a responsabilidade dos nossos hábitos na degradação do meio ambiente.
A enorme quantidade de agrotóxicos que consumimos é outro problema grave, do qual o Brasil precisa se dar conta. Somos um dos países que mais consome esse tipo de produto, alguns inclusive já proibidos em outros países também em desenvolvimento, enquanto nossa população continua com muito pouca consciência sobre os riscos. Costa Ribeiro sinalizou que ainda estamos na “terceira geração do agrotóxico” e, por isso, os danos ainda não estão tão evidentes para a maioria das pessoas. Muito provavelmente, daqui a alguns anos o debate em torno dessa questão virá à tona com mais relevância, partindo da exigência de uma regulamentação para o que pode ou não ser introduzido na produção dos alimentos que ingerimos.
O Brasil é um grande exportador de água, sendo a Amazônia a maior reserva de água potável do país e uma das maiores do mundo. Essa é a “defesa natural” da região contra os possíveis ataques que ela poderia sofrer de outros países: não é de interesse de ninguém que o mais valioso recurso natural seja contaminado pelos efeitos de um bombardeio, ao contrário do petróleo, por exemplo, que expõe os países árabes a conflitos constantes e um cenário de guerra internacional.
A conservação da biodiversidade é fundamental para que a Amazônia possa proporcionar à população todos os benefícios dos recursos que ela tem a oferecer. Não só da biodiversidade, aliás, mas sobretudo da sociodiversidade, que leva em consideração a pluralidade cultural da região e suas particularidades para lidar com o meio ambiente, em relação ao resto do país. “O pesquisador ganha trinta anos de pesquisa quando parte do conhecimento associado”, disse Wagner Costa, referindo-se ao contato do sujeito pesquisador com o povo local, que tem um conhecimento mais objetivo e aprofundado das espécies.
“No século XXI devemos fazer um esforço para consertar os estragos do século XX”, concluiu Costa Ribeiro. Estabilizar as mudanças climáticas, regulamentar o uso dos recursos naturais, diminuir ações como queimadas e desmatamentos, conscientizar a população do perigo do consumo inconsequente: esses são alguns dos desafios que estão postos à nossa frente, Estado e sociedade, para que os estragos não se alastrem ainda mais e, pelo contrário, rumos diferentes sejam dados à questão ambiental no Brasil e no mundo.
Fonte: rede.outraspalavras.net