O sonho da casa própria cada vez mais distante em Chapecó. Por Emi Pandolfo.

A cidade enfrenta uma realidade peculiar: os imóveis usados frequentemente têm preços superiores aos novos.

Por Emi Pandolfo, para Desacato.info.

A casa própria, um dos maiores sonhos de grande parte das famílias brasileiras, está se tornando cada vez mais inalcançável em Chapecó. Na contramão do que seria lógico – imóveis novos custando mais do que os usados –, a cidade enfrenta uma realidade peculiar: os imóveis usados frequentemente têm preços superiores aos novos.

Imagine comprar um carro usado, com as manutenções que esses exigem, mais caro que um carro novo tirado na concessionária. Pois é isso que acontece com os imóveis em Chapecó.

Por exemplo, um apartamento de 60 m² novo em Chapecó, ainda na planta, custa o teto de financiamento do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), ou seja, R$ 350 mil. Já um imóvel usado ou mesmo novo, porém pronto para entrega, com as mesmas características, pode chegar a R$ 450 mil. Essa disparidade é agravada pelas recentes alterações no programa MCMV, que no final de 2024 estipulou que apenas 50% do valor máximo de R$ 270 mil será financiado para imóveis usados – ou seja, um financiamento de R$ 135 mil. Em contrapartida, para imóveis novos, é possível financiar até 80% do valor, mas a família ainda precisará desembolsar R$ 70 mil de entrada.

“Quem comprou, comprou, quem não comprou, não compra mais”

Essa mudança, apesar de incentivar o mercado de novas construções, negligencia a acessibilidade habitacional para grande parte da população, especialmente quando somada à especulação imobiliária desenfreada.

A Realidade do Mercado Imobiliário

Um dos grandes problemas observados em Chapecó é o discurso comum de que “a compra do imóvel vai valorizar”, normalizando o foco no lucro em vez de priorizar o direito à habitação. Isso faz com que imóveis sejam tratados como investimentos em potencial, muitas vezes inflando os preços de forma artificial. Em vez de adquirir um lar, as pessoas entram no mercado pensando em quanto poderão lucrar no futuro, enquanto a classe trabalhadora enfrenta dificuldades extremas para simplesmente morar.

Além disso, o déficit habitacional na cidade é alarmante. Hoje, grande parte das famílias de baixa e média renda compromete mais de 30% de sua renda apenas com moradia – um cenário insustentável para quem precisa equilibrar custos básicos como alimentação, transporte e saúde.

O Desafio de Financiar a Casa Própria

Uma alternativa sugerida por muitas construtoras é a compra de imóveis na planta, com parcelamento da entrada durante o período da obra. No entanto, isso levanta outro problema: como uma família pode arcar com o pagamento de aluguel e as parcelas da entrada ao mesmo tempo? Em Chapecó, os aluguéis superam frequentemente o salário mínimo, tornando inviável juntar dinheiro para a entrada necessária.

Para muitos, a pergunta central é: como uma família, um casal ou até mesmo uma pessoa sozinha pode juntar R$ 70 mil em um cenário onde o custo de vida é tão alto?

Reflexões Necessárias

O que vemos em Chapecó é uma cultura de ganância que transformou a habitação em uma mercadoria de luxo. O lucro tornou-se mais importante do que o direito à moradia. Esse problema não é apenas econômico, mas social e político, exigindo maior regulação no mercado imobiliário e políticas públicas mais inclusivas.

É fundamental que a habitação seja tratada como um direito humano básico, e não como uma simples oportunidade de investimento. O foco em imóveis como fonte de lucro tem desumanizado o setor, colocando famílias em situações de extrema dificuldade para acessar algo que deveria ser essencial.

Enquanto as soluções não vêm, Chapecó segue sendo um reflexo de um problema nacional: o déficit habitacional e a especulação imobiliária ameaçam não só o sonho da casa própria, mas também a dignidade de quem trabalha duro para conquistar seu espaço. A pergunta que fica é: até quando aceitaremos que o lucro esteja acima das pessoas?

Emi Pandolfo é comunicadora social e apresentadora de Acorda, Amor, no Portal Desacato.

 

 

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

 

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