Por Esmael Morais.
A indignação seletiva da mídia brasileira com mais um mandato de Nicolás Maduro na Venezuela expõe, mais uma vez, as contradições de quem se apresenta como defensor da democracia. Ao apontar dedos contra a legitimidade do processo eleitoral venezuelano, veículos como a Folha e outros tradicionais da imprensa ignoram contextos históricos e reforçam uma narrativa enviesada que favorece interesses geopolíticos e econômicos.
Mas por que essa preocupação com a alternância de poder não foi tão fervorosa em outros casos? Angela Merkel governou a Alemanha por 16 anos consecutivos e foi amplamente exaltada pela mesma mídia como um exemplo de liderança estável. Antes dela, Margareth Thatcher liderou o Reino Unido com “mão de ferro” por mais de uma década. Onde estavam os questionamentos sobre a “longevidade” no poder quando esses líderes consolidavam suas hegemonias?
A seletividade é gritante quando analisamos o próprio histórico brasileiro. Durante os 21 anos de regime militar, a mesma imprensa que hoje critica Maduro foi conivente, e em muitos casos cúmplice, do autoritarismo que se impôs no Brasil. Manchetes celebravam “a ordem” enquanto o povo brasileiro vivia sob censura e repressão.
É claro que a Venezuela enfrenta problemas econômicos e políticos graves. A crise humanitária é real, mas suas raízes são complexas e vão muito além das narrativas simplistas sobre autoritarismo chavista. O bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, amplamente ignorado pela mídia brasileira, é uma peça central na deterioração do país. A quem interessa silenciar esse fator?
A questão não é defender Maduro a todo custo, mas expor as hipocrisias de quem critica apenas os regimes que não alinham com interesses estratégicos de potências ocidentais. E quando falamos de “fraude”, por que o foco na Venezuela enquanto eleições questionáveis, como as do Peru ou mesmo nos EUA, com denúncias de manipulação, recebem tratamento tão brando?
O governo Lula adota um discurso mais pragmático, ainda que ambíguo, frente à Venezuela. Por um lado, defende o princípio da soberania dos povos; por outro, busca manter relações diplomáticas com países críticos ao chavismo. Essa postura, embora criticada tanto pela direita quanto por setores progressistas, reflete a necessidade de equilibrar interesses em um cenário internacional cada vez mais polarizado.
Por fim, cabe à sociedade brasileira refletir sobre o papel da mídia na construção das narrativas sobre democracia e direitos humanos. Será que estamos consumindo uma visão ampla e justa da realidade ou apenas versões que alimentam velhos preconceitos e interesses econômicos?
A crítica à Venezuela não pode ser seletiva. Se a imprensa realmente quer defender a democracia, que tal começar revisitando seu próprio passado e reconhecendo suas contradições? Além disso, não é de somenos que a velha mídia corporativa é a principal produtora e disseminadora de fake news, as notícias falsas, sob a etiqueta de “jornalismo profissional”. Um horror, que corrobora com o discurso de ódio e a despriorização do debate de ideais, enquanto promove a ditadura da opinião única no Brasil.
Nicolás Maduro é empossado para novo mandato presidencial na Venezuela
Cerimônia reforça simbolismo bolivariano e desafia sanções internacionais
Nicolás Maduro foi empossado nesta sexta-feira (10) como presidente da República Bolivariana da Venezuela, marcando o início de seu mandato de 2025 a 2031. A cerimônia ocorreu no Palácio Legislativo, em Caracas, diante de representantes de 125 países e milhares de apoiadores que lotaram as avenidas da capital.
A posse reafirma a continuidade do projeto bolivariano, em meio a desafios internos e externos. Maduro obteve 6,4 milhões de votos (52% do total) nas eleições de junho, garantindo sua reeleição em um pleito marcado por sanções e pressões internacionais.
Durante a solenidade, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, conduziu o juramento com um exemplar da Constituição Bolivariana assinado por Hugo Chávez. Maduro prometeu cumprir as leis e trabalhar por um período de paz, prosperidade e igualdade.
“Este novo período presidencial será o período da paz, da prosperidade, da igualdade e da nova democracia”, declarou Maduro ao receber a faixa presidencial bordada artesanalmente por mulheres de Caracas, reforçando o vínculo entre o governo e o povo.
Delegações de Cuba, Rússia, Nicarágua e outros países reforçaram o apoio internacional ao governo de Maduro, em contraste com o isolamento promovido por Estados Unidos e União Europeia. Entre os presentes estavam o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, o presidente da Duma russa, Viacheslav Volodin, e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.
Nas ruas, multidões celebraram a posse como um marco de resistência. Mesmo sob mais de 900 sanções impostas por EUA e UE, a Venezuela segue avançando em estabilidade econômica, segundo discursos oficiais.
Maduro enfrenta um cenário desafiador, com pressão internacional, crise migratória e demandas internas por reformas. O presidente prometeu intensificar o desenvolvimento econômico e consolidar um modelo de “nova democracia”, que busca fortalecer as bases do chavismo e enfrentar as adversidades globais.
O juramento seguiu o artigo 231 da Constituição da Venezuela, que determina a posse presidencial no primeiro ano do período constitucional, reafirmando a soberania do processo eleitoral.
Com esse início, a gestão de Maduro será decisiva para a reconstrução da economia venezuelana e a consolidação de sua posição no cenário geopolítico internacional.