Os passarinhos, com seus cantos, encantam o amanhecer, depois ziguezagueiam pelo dia e entregam a noite aos Espíritos de Luz.
São semeadores das sonoridades que gestam simplicidade, esperançando, brotam, no chão da mamãe e papai terra, o renascer da vida.
O beija-flor, beija a flor e não rouba dela suas essências – o perfume, a beleza e a fertilidade – porque, ao sorver o néctar, fertiliza-a.
Eles – os passarinhos, as abelhas, bichos, insetos – promovem o “refaunamento” dos espaços pelo tempo, repovoando os ambientes, oferecendo neles, uma ecologia de encantamento.
O néctar, substância vital à profusão das plantas, se distribui, como alimento – entre singelos toques e beijos, tendo na polinização a sua mais íntima recompensa.
E tudo vai deixando de ser indivisível, se pluriuniversalizando, deslocando a terra – terra mamãe e papai – encantando o chão numa inversão de concepções, purificando-a como dom da criação.
Povo, pedra, água, árvore, passarinho, abelha e flor, numa relação intrínseca – em defesa das vidas – compõem o projeto político e pedagógico dos passarinhos.
Luziânia (GO), 29 de novembro de 2024.
Roberto Liebgott
Inspirado na poética fala de Iran Neves Ordonio – Xukuru do Ororuba- no encontro de formação do Cimi.