A secretaria de estado da Educação de Santa Catarina não autorizou a abertura de matriz curricular para o 1° Ano do ensino médio, dos cursos técnicos das Casas Familiares Rurais (CFRs), de Santa Catarina. As CFRs se enquadram como Escola do Campo, em nível de ensino médio técnico.
As unidades da CFRs foram informadas verbalmente por sua respectiva Coordenadoria Geral de Educação (CRE), que as vagas não foram autorizadas para 2025. Sendo que a matriz curricular foi autorizada pela Secretaria de Educação, e a pré-matrícula dos estudantes foi realizada.
Importante ressaltar que os jovens que estudam na CFR são majoritariamente filhos de pequenos agricultores, e que a metodologia de ensino utilizada nas CFRs – Pedagogia da Alternância – possibilita ao jovem cursar o ensino médio concomitante ao curso técnico, mantendo o vínculo com a atividade produtiva da família, ou seja, mantém o vínculo com o campo.
A decisão de não abrir novas matrículas sinaliza que a intenção do Governo do Estado é encerrar as atividades nas CFRs, representando um desrespeito com os jovens do campo, que já enfrentam um descaso histórico referente a direitos, políticas públicas por parte do governo.
Segue breve histórico sobre as CFRs:
As Casas Familiares Rurais (CFRs) tiveram sua origem na França, por volta da década de 1930, criadas por iniciativa de famílias camponesas, interessadas na formação profissional aliada à educação humana para seus filhos. Hoje se expandiram para os cinco continentes em 43 países sendo 1300 Centros Familiares com a mesma concepção responsabilidade e entrosamento das famílias na formação dos jovens no sentido de promover o desenvolvimento global do meio. No Brasil as primeiras experiências surgem no meio rural em 1969, no Estado do Espírito Santo, com as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs).
Atualmente é possível identificar onze (11), CFRs no estado de Santa Catarina, estando localizadas nos municípios de Guaraciaba, São José do Cedro, Riqueza, Iporã do Oeste, Caibí, Armazém, Seara, Xaxim, Modelo, Quilombo e Saudades. Juntas formam a FECAFAR/SC – Federação Estadual das Casas Familiares Rurais de Santa Catarina.
Como objetivos das CFR podemos citar a promoção do desenvolvimento integral do jovem através da pedagogia da alternância, contribuindo na construção do conhecimento, de habilidades e atitudes necessárias ao bom desempenho profissional, utilizando eficientemente as tecnologias, melhorando a qualidade de vida do jovem e das famílias, e oportunizando a conclusão do Ensino Médio Profissionalizante em Regime de Alternância.
A metodologia de aplicada pela CFR contribui para a melhoria da qualidade de vida das famílias rurais, através da aplicação de conhecimentos técnico-científicos, organizados a partir dos conhecimentos vivenciados no contexto familiar e comunitário, adotando a pedagogia da alternância, além de oferecer aos jovens rurais uma formação integral adequada a sua realidade, que lhes permitam atuar como um profissional no meio, além de se tornarem homens e mulheres em condições de exercerem plenamente a cidadania.
Possibilitando fomentar ao jovem agricultor o sentido de comunidade, vivência grupal e desenvolvimento do espírito associativo e solidário, além de desenvolver a consciência de que é possível através de técnicas de produção adequadas, de transformação, de comercialização, viabilizar uma agricultura familiar sustentável.
A Casa Familiar Rural apresenta uma forma diferenciada de aprendizado com base na concepção Pedagogia da Alternância, onde os alunos, que pode ser qualquer estudante interessado, como também, filho de agricultores, podem ter acesso ao Ensino Médio e Técnico gratuito. Tendo em vista que a economia dos municípios que abrangem a Casa Familiar Rural é majoritariamente agrícola, um curso de formação técnica se mostra necessário para atender o mercado de trabalho, formando profissionais qualificados, tanto para atuarem na propriedade, a sucessão familiar, com em lojas agropecuárias e assistência técnica em geral.
A Pedagogia da Alternância consiste em alternar o “tempo casa” e “tempo escola”. Entende-se “tempo escola”, como a semana em que o aluno fica em sistema de internato na CFR. Já o “tempo casa”, consiste na semana onde o aluno está em sua propriedade desenvolvendo as atividades práticas referentes à teoria aprendida no tempo escola, utilizando o conhecimento oriundo do meio rural vinculado ao necessário aprofundamento técnico-científico sistematizado. Esse sistema é fundamental para que o estudante não se desligue das atividades da propriedade e fortaleça a agricultura familiar.
Na semana em que estão na Casa Familiar Rural, são ministradas aulas das disciplinas do Ensino Médio segundo a BNCC, e também disciplinas técnicas relativas ao curso técnico em questão, que pode ser técnico em zootecnia, agropecuária ou agricultura.
Texto enviado por um leitor do Portal Desacato.