Pelamordedeus. Governo é como feijão, só funciona na panela de pressão.
“E se em vez de adorar, Eu disser urinar, aqui está Deus? E se em vez de salvação, eu disser salivação, aqui está Deus? E se em vez de celebrar, eu disser arrotar, aqui está Deus?” (Frei Betto).
Coveruping (tapamento), é o que faz um companheiro de partido (sempre o mesmo, como um robô), toda vez que escrevo num grupo de Zap petista, insinuando qualquer tentativa de análise crítica, dentro do partido ao qual me filiei, 30 anos atrás.
Lula vai aguentar dois anos mais em cima da corda bamba? Por Eduardo Vasco.
Sabe quando você escreve algo (tentando ser bem elaborado) num grupo de Uasap e a mesma pessoa sempre posta um monte de coisas, logo em seguida, correndo, para que a sua análise fique lá para trás, bem escondidinha, depois de todos os puxa-saquismos que ele acabou de, propositadamente, empurrar?
Pois hoje, pela primeira vez em anos, descobri que o companheiro existe, tem opinião própria, respeitável. Não é um robô somente postando elogios governamentais, sem nada comentar.
Ah! Bastou ( sempre respeitosamente) lhe cutucar.
Que bom poder dialogar, companheiro! Uma pessoa, aliás, com vida própria e muitos anos de dedicação. Muito obrigado. Prazer em conhecer. Quem sabe não era coincidência e não esse nome feio, Coveruping, norteamericanizado. Oxalá.
Todo Lulista, aqueles, de toda a vida, merece um dia, pelo menos, ser BeTTista. BasTTaria um dia!
Hoje, por exemplo, é um dia perfeito. Ressaca pós-eleitoral. Data ideal. Para PeTTistas.
Hoje é um dia daqueles, quando metade dos petistas se auto-escondem no seu próprio Metaverso.
Eu tô fora. Meu mundo é este.
Quem falou isso, hoje mesmo, foi um fundador, dirigente nacional.
Quando eu falo, sou agredido. O famoso fogo amigo.
Vamos ver se, dito por quem Luís, O Aniversariante (felicidades! Merecidas), considera um dos seus melhores amigos e guia espiritual, a coisa tem mais sucesso.
Antes, um breve relato.
No segundo Governo Lula, estive no Palácio do Planalto, para entregar a Carta de Barcelona, resultado do 3º Encontro da Rede de Brasileiros no Exterior. A PêErre (Presidência da República) designou o falecido Marco Aurélio Garcia para me receber. Perguntou se eu queria esperar para fazer foto com o Presi. Não dava. Bem que eu queria.
Mas tive que correr para pegar o voo. E foto com Lula eu já tinha cinco.
A “Culpa” (criação cristã) foi de Frei Betto. Lhes explico.
Ele, Betto, estava com Lula num demorado encontro, que foi relatado pelo religioso, no dia seguinte. Depois de haver entregue o seu cargo ao Presidente, pois dizia-se desiludido, ele, Frei Betto, com os rumos do mais interessante programa público do Governo, o Fome Zero.
Fiquei feliz porque se confirmou o que Marco Aurélio me havia dito, em tom confessional. “Vamos deixar eles conversarem em paz, Lula e Betto. Porque dali, somente boa coisa, pode sair. Toda vez que Betto vem, pelo menos três boas coisas acontecem: primeiro, uma necessária reza para o crucifixo branco doado pelo Papa, sempre apto a momentos de crise; depois, uma correção de rumo, invariavelmente relativa à Reforma Agrária, sempre bem-vinda; e, enfim, uma providencial melhoria de ânimo do clube que Betto e Lula, criaram durante os momentos mais duros da greve dos Metalúrgicos. Um tal de Grupo do Mé. A saudade daqueles tempos amolece o já molenga coração do Presidente”.
Foi Batata. No dia seguinte, Frei Betto, confirmou isso tudo, numa entrevista. Está na sua Website. Ao voltar pra Barcelona, li Dom Pedro Casaldáliga, fundador da CPT e do CIMI, saudando Betto, seu amigo, na Internet do MST.
Hoje, os deixo com essas pérolas, dele, do Frei.
Que uma das mais necessárias vozes seja dO Cara que mais influenciou dois dos maiores presidentes da história. O que seria de Fidel (que se disse ateu, porém crente em Frei Betto) e de Lula (que se disse, brincando, mais cristão do que o Frei) sem aquele guia espiritual?
Aquele abraço. Com a palavra, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.
Abro aspas….
O PT poderá se reinventar? Postado em 22 de março de 2015.
No Brasil, no governo do PT adotou-se a emulação do crescimento (PAC – Política de Aceleração do Crescimento), visando a, em primeiro lugar, anabolizar o PIB. E a dependência da exportação de matérias-primas, hoje elegantemente denominadas commodities, agravou o processo de desindustrialização.
É hora de fazer autocrítica e corrigir rotas, antes que seja demasiadamente tarde. Pena que, em seu congresso nacional, na primeira semana de junho, o PT tenha declinado desse dever político sob o pretexto de não dar munição aos adversários. Quem se cala, consente.
Lástima que o PT se deixou picar pela mosca azul. Não ousou implementar reformas de estruturas, como a política, a tributária e a agrária. Permitiu que o Fome Zero, de caráter emancipatório, fosse substituído pelo Bolsa Família, compensatório. Erradicou, em fins de 2004, Comitês Gestores em mais de 2 mil municípios, e entregou às mãos dos prefeitos o cadastro do Bolsa Família.
Como se a retórica fosse suficiente para encobrir gritantes desigualdades, o PT tentou, em vão, ser o pai dos pobres e a mãe dos ricos. Para renovar o Congresso, não confiou no potencial político de líderes de movimentos sociais. Preferiu alianças promíscuas cujos vírus oportunistas acabaram por contaminar alguns de seus dirigentes. Em 13 anos de governo, não se empenhou na alfabetização política da nação nem na democratização da mídia, sequer no modo de distribuir verbas publicitárias para veículos de comunicação.
Graças ao crédito facilitado, ao controle da inflação e ao aumento real (e anual) do salário mínimo acima da inflação, a população teve mais acesso a bens pessoais. Dentro do barraco de favela, toda a linha branca favorecida pela desoneração tributária e, ainda, computador, celular e, quem sabe, no pé do morro, o carro comprado a prestações.
Porém, lá está o barraco ocupado pela família sem acesso à moradia, segurança, saúde, educação e ao transporte coletivo de qualidade. A prioridade deveria ter sido o acesso aos bens sociais. Criou-se, portanto, uma nação de consumistas, não de cidadãos, nação feita de eleitores que votam como quem cumpre um preceito religioso ou retribui um favor de compadrio, enternecidos com os laços de família que se estendem do netinho evocado em pleno parlamento à protuberância glútea exibida ministerialmente.
Entre avanços e desvios, o PT deixa como legado programas sociais que merecem figurar como políticas de Estado, e não ocasionalmente de governos. Mas terá o partido a ousadia de se reinventar?
O PT, infelizmente, se descolou das bases populares
É um governo que decepciona quanto às expectativas que foram criadas desde a fundação do PT, em 1980.
Durante esses últimos anos houve uma política neodesenvolvimentista, eu diria até um capitalismo populista, que favoreceu as camadas mais pobres da população, tirando 36 milhões de pessoas da miséria. Mas não se criou uma política de sustentabilidade dessa política. Em 12 anos de governo, o PT não fez nenhuma das reformas que prometia em seus documentos originários, nem a agrária, nem a tributária e nem a política. Agora, chegou a hora de pagar a conta, porque o buraco existe. E, para isso, se adotou uma política econômica que penaliza os mais pobres.
Ainda tivemos uma vulnerabilização dos direitos conquistados pelos mais pobres, com cortes no seguro desemprego e nas pensões. Não houve redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, que evitaria a volta do desemprego, e não acabaram com o fator previdenciário. Não há uma decisão quanto à tributação de heranças, dos royalties, da transferência de grandes fortunas. É preciso que a pressão social e institucional se fortaleça.
Governo é como feijão, só funciona na panela de pressão.
O PT chegou à Presidência por força dos movimentos sociais. E, ao chegar, abandonou os movimentos, não assegurou a governabilidade por meio deles. Preferiu a via do mercado e do Congresso, com as alianças partidárias, muitas delas espúrias. Isso levou o PT a trocar um projeto de Brasil, que implicava em reformas estruturais, por um projeto de poder. Manter-se no poder se tornou mais importante do que mudar a feição estrutural deste país injusto e desigual, embora as políticas tenham diminuído o sofrimento dos mais pobres. Hoje, tenho muita dificuldade em ver uma recuperação do PT.
Não se pode governar um país da grandeza do Brasil na base de concessões pontuais. É preciso ter uma estratégia. Duvido muito que o PT consiga retomar a aliança consolidada que lhe permitia vitórias no parlamento. Mais do que nunca, o partido precisa se voltar para os movimentos sociais.
O que garante a governabilidade de qualquer poder em qualquer parte do mundo é o apoio popular. Mas o PT perdeu esse vínculo com as bases populares. Fico indignado quando, nas eleições, vejo pessoas desocupadas, em geral jovens, que são pagos para segurar cartazes de propaganda do PT nas esquinas, quando antigamente havia toda uma multidão de militantes voluntários que passava as noites fazendo propaganda para o partido. Hoje, os poucos movimentos sociais totalmente alinhados, como a UNE e a CUT, foram transformados mais em representantes do governo junto às bases, do que representantes de suas bases junto ao governo, como é o correto. Temos um governo que é resultado desses movimentos, mas que não crê que é possível governabilidade com seu apoio.
Por um lado, o PT fala que é expressão do MST e do MTST, mas, por outro, adota uma política conservadora.
Se o Executivo ousasse ser fiel aos programas originários do PT e adotasse uma política de reforço do mercado interno, com auditoria da dívida pública, que hoje consome 40% do orçamento da União, se ousasse dar essa volta por cima, conseguiria mobilizar aqueles que sempre o elegeram, em quatro mandatos. Mas isso seria quase um milagre.”
Fecho aspas, com o religioso repetindo: “Só se houver um milagre”.
Eu não acredito em milagres. Eu creio em Betto. Viva Cuba.
Aquele abraço.
@1flaviocarvalho. Sociólogo e escritor. Barcelona, 28 de outubro de 2024.
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