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Ser ou não ser do progressismo chileno. Por José Salvador Cárcamo.

O atual presidente, quando era parlamentar, votou contra a iniciativa; afirmou que violava a soberania económica, concedendo às empresas transnacionais o direito de processar os Estados em órgãos de arbitragem internacionais. Sua posição mudou quando ele se tornou presidente.

Foto: EPA

Por José Salvador Cárcamo.

No Chile existe um progressismo encurralado no discurso neoliberal. O presidente Boric, tal como o seu homólogo argentino, questionou a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais venezuelanas, antes de completar a recontagem em todas as suas fases, e tomar partido pelo candidato mais votado da oposição. Setor político, que já tinha manifestado a sua posição antes da eleição: “As eleições são limpas se vencermos, mas há fraude se perdermos”. A posição precipitada do presidente chileno contrasta com a posição moderada de Lula e López Obrador. Já a ex-presidente chilena, Michelle Bachelet, foi mais conciliadora que Boric: “A publicação e divulgação dos registros eleitorais de todas as seções eleitorais é essencial, como um ato de transparência e compromisso com a verdade”. Até o deputado Vlado Mirosevic, do Partido Liberal Chileno – muito diferente dos pseudo-liberais argentinos – afirmou: “Não se pode exigir democracia na Venezuela com a foto de Pinochet em casa”. Referindo-se aos setores de direita que questionaram Bachelet pelas suas declarações.

O que está em jogo na Venezuela, além de uma eleição presidencial, é o posicionamento geopolítico da América Latina e o Caribe, num mundo unipolar sob a hegemonia dos Estados Unidos/OTAN, ou então num mundo multipolar.

Leia mais: O mal menor como deserção estratégica.

Estas ambivalências do progressismo chileno também ficaram evidentes em 2022, com a assinatura do acordo de livre comércio (TPP 11). O atual presidente, quando era parlamentar, votou contra a iniciativa; afirmou que violava a soberania económica, concedendo às empresas transnacionais o direito de processar os Estados em órgãos de arbitragem internacionais. Sua posição mudou quando ele se tornou presidente.

Este movimento de um progressismo que aspira a ser mais de direita do que a direita ficou evidente há algumas semanas, quando o senador socialista e ex-secretário-geral da OEA (2005-2015), José Miguel Insulza, propôs o estado de sítio em Santiago, diante da escalada da violência e da insegurança.

A deputada de direita Evelyn Matthei, prefeita da comuna de Providencia de Santiago, que responde a Insulza, foi mais cautelosa. Salientou que o estado de sítio não resolve o problema, que devemos “tomar medidas fundamentais, que são, por exemplo, controlar os portos, controlar tudo o que diz respeito às fronteiras; trabalho mais exaustivo da alfândega, com a gendarmaria ao serviço das prisões, maior controle na rota do dinheiro. Coloquem ou não os militares nas ruas, a situação subjacente não mudará.” Dias depois, Insulza desistiu do pedido.

Em relação ao conflito histórico nas províncias de Arauco e Bío Bío, onde as comunidades Mapuche reivindicam terras como parte de uma reivindicação ancestral, o deputado Boric se posicionou contra o envio de militares. Já na presidência, prorroga o estado de emergência e a militarização promovida pelo seu antecessor Sebastián Piñera.

Esta progressividade desfigurada em seu ser se manifesta na prisão preventiva arbitrária de Daniel Jadue, prefeito da Comuna da Recoleta de Santiago, de militância comunista e palestina. Este caso foi relatado como guerra jurídica por organizações de direitos humanos. Em termos práticos, o que se pretende é deixar um candidato competitivo fora da corrida presidencial de 2025, e o progressismo e a direita concordam nisso. O caso Jadue contrasta com a lentidão do processo judicial contra agentes policiais responsáveis ??por milhares de feridos, 460 olhos mutilados e mais de 30 mortes, na revolta social de outubro de 2019, e que permitiu a catapulta de Boric para a presidência. Entre os responsáveis ??por estes crimes estão o atual diretor dos Carabineros, o anterior diretor e um ex-vice-diretor da instituição. Uma das promessas de campanha deste progressismo, que “nem chicha nem limoná”, diria Víctor Jara, era transformar a instituição policial. Outro exemplo da falta de imparcialidade da justiça é o caso do senador Javier Macaya, presidente até 23 de julho do principal partido de direita. Seu pai foi acusado de crimes de abuso sexual infantil, gozando do privilégio de prisão domiciliar no decorrer do processo judicial. Foi condenado em 19 de julho a seis anos de prisão, o que lhe concedeu o privilégio da prisão domiciliar, revogada dias depois devido à alegação de que esse benefício era inadmissível por organizações como a Rede Chilena Contra a Violência Contra a Mulher.

Diante deste cenário de progressismo chileno órfão, cenário previsível para as eleições presidenciais de 2025, está a competição entre Michelle Bachelet e Evelyn Matthei como em 2013.

Tradução: TFG, para Desacato.info.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

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