Por Francisco Fernandes Ladeira.
Um dos maiores mitos divulgados pela mídia ocidental diz respeito à “democracia americana”, equivocadamente concebida como a “maior do planeta”, exemplo de liberdade de expressão, respeitos aos direitos humanos, imprensa livre e eleições limpas.
No entanto, o que a realidade nos revela é um país com apenas dois partidos dominantes (ambos praticamente iguais, pois defendem exclusivamente os interesses da burguesia), racismo explícito por parte de setores policiais, torturas em prisões, repressão a protestos pacíficos, monitoramento de cidadãos e perseguição a jornalistas. Entre eles, está Julian Assange, fundador da WikiLeaks,organização que divulgou (e ainda divulga), sobretudo, os podres do Estado norte-americano.
Não é exagero afirmar que Assange ajudou a desnudar o Império. Se, em outras épocas, todos aqueles que denunciavam as falcatruas de Washington e aliados eram acusados de propagadores de teorias da conspiração, com as revelações da WikiLeaks, esse tipo de argumento fajuto definitivamente caiu por terra.
Por meio da página da organização, tivemos conhecimento dos crimes de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão e Iraque, que, conforme o discurso midiático hegemônico, eram dois “países autoritários” e “atrasados”, invadidos em nome da “democracia ocidental” e sua saga contra o terrorismo internacional e às armas de destruição em massa.
A mesma “democracia americana”, que aponta violações de direitos humanos em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e Rússia, conforme revelou a WikiLeaks, encarcera inocentes e tortura prisioneiros em Guantánamo.
Ainda nas páginas da WikiLeaks, soubemos que, em 2016, a cúpula do Partido Democrata favoreceu Hillary Clinton nas primárias e trabalhou para desacreditar seu principal adversário, Bernie Sanders. Ou seja, nos Estados Unidos a democracia não funciona nem entre os membros de uma mesma organização partidária.
Sobre o Brasil, a WikiLeaks revelou a espionagem da presidenta Dilma Rousseff feita pelos Estados Unidos e a insatisfação de Washington em relação às políticas da Petrobrás nos tempos de governos petistas (principalmente as políticas que diziam respeito ao pré-sal). Nesse contexto, não por acaso, uma das primeiras medidas do governo golpista de Michel Temer foi facilitar o acesso às riquezas minerais brasileiras ao capital estrangeiro.
Também “coincidentemente”, a tentativa de golpe que ocorreu ontem (26/6) na Bolívia foi após o governo de La Paz anunciar a descoberta de mais de dois milhões de toneladas de lítio, recurso fundamental para a indústria estadunidense. Mas, como eu disse, é apenas coincidência.
Diante desse histórico antidemocrático, aqui brevemente exposto, é importante perguntar: se as denúncias da WikiLeaks fossem relacionadas aos governos de Rússia ou China, qual seria a reação da grande mídia brasileira?
Por fim, com Assange e WikiLeaks na pauta do dia, levanta-se o debate sobre a necessidade de, paralelo à liberdade de expressão, termos a “liberdade de informação”, que corresponde ao direito do acesso às notícias sobre o que realmente acontece no mundo, sem as manipulações dos grandes grupos de comunicação privados. Isso passa, inexoravelmente, pela internet livre. Como disse certa vez o próprio ativista australiano, os cidadãos devem ter amplo conhecimento sobre as ações governamentais; e não o contrário, como ocorre atualmente.
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